terça-feira, 20 de março de 2012

CRISE DE IDENTIDADE.

O problema não é o PMDB. É o PT querer ser o PMDB.
O PT teve a oportunidade de se diferenciar e mudar o modus operandi da política no país. Preferiu imitar o que sempre criticou. 
Nos últimos meses, tem havido muito fogo amigo entre os “aliados” do PT e do PMDB, tudo por causa de comandos e cargos comissionados em estatais, ministérios, autarquias e afins. Um fogo cruzado tradicional em épocas de transição, mas não tão evidente como desta vez. Há um fator novo. O PMDB, até poucos anos o maior partido do Brasil, com seus grupos distintos que brigam internamente por correntes de poder, sempre foi fisiológico. O problema para o atual governo é maior que este PMDB. É que o PT, então no poder, passou a cobiçar o mesmo e, involuntariamente, o status de fisiologismo do PMDB.
O mais espantoso é que nenhum dos dois partidos reconhece isso, apesar das evidências na mídia e nos seus cotidianos de disputa. E quem perde é o próprio governo, que estanca nomeações para funções importantes cujas pastas poderiam mostrar eficiência em lugar de uma morosidade política cada vez pior. A cada dia mais disputada – e não pelo conceito da meritocracia, mas pela política de distribuição de benesses a aliados, em alguns casos a “técnicos”, em outros a incompetentes declarados, e todos eles inevitavelmente norteados pelas escolhas partidárias.
É difícil encontrar uma fórmula para mudar isso. Aos olhos da população, um mal administrativo, mas aos olhos dos políticos, um direito alcançado como recompensa depois da digladiação eleitoral. Quem vence, sente-se no direito de repartir o prêmio – ou não. Independentemente de o cidadão sair ganhando ou não nesta partilha de poder.
Nesse ritmo, a briga do PT com o PMDB por esses feudos só tende a piorar, e dela pode nascer uma crise para a presidente Dilma Rousseff driblar. Esse é o maior perigo para o seu governo: ele não vem da oposição, fácil de rebater para quem conquistou uma base ampla de apoio no Congresso. Ele surge dentro de seu castelo, com o perigo de uma traição dos súditos desestabilizarem o sustentáculo da governabilidade.
Ressalta-se, neste sentido, o caso de Eduardo Cunha. O deputado federal perdeu suas indicações para o setor energético que controlava em parte até mês passado. Ameaça jogar luz em casos obscuros de aliados petistas. Até agora, nada. Mas a ameaça fica. O PT, por outro lado, é generoso com quem ainda manda no PMDB, como o senador Renan Calheiros e o presidente do Congresso, José Sarney, além do grupo político do próprio vice-presidente Michel Temer. Junto, esse trio emplacou todos os ministros do PMDB, suas crias, nas pastas que ganharam. Ou seja. Sarney, Renan e Temer mandam no PMDB que está no poder. A outra ala renegada grita. Resta saber se haverá eco. E se esse som ultrapassa os vidros blindados do Palácio do Planalto. Mas essa é só a briga do PMDB.

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