De tempos em tempos, alguma
recomendação popular intriga e a pergunta fica no ar: será que funciona? Grande
parte delas é falsa e chega até a oferecer risco à saúde. Seria esse o caso da
crença de muita gente de que, quando alguém perceber que está enfartando, deve
tomar comprimidos de ácido acetilsalicílico (AAS), começar a tossir a cada dois
segundos e correr para o hospital?
Quando se fala do AAS, essa
informação procede, sim. Os especialistas explicam que o AAS é um excelente
prolongador de vida. O cardiologista do Instituto do Coração de São Paulo
(Incor) Alexandre Soeiro conta que o medicamento é fundamental no tratamento do
infarto e que diminui as taxas de mortalidade quando administrado nas doses de
200 a 300 mg (o equivalente de dois a três comprimidos de AAS infantil). “No
entanto, a avaliação médica é fundamental para saber se é um infarto ou se há
outro diagnóstico envolvido”, conta.
O cardiologista do Hospital
do Coração (HCor) César Jardim explica que estudos mostraram que o AAS é capaz
de reduzir a mortalidade em até 25%. “É de fato comprovado que o medicamento traz
benefícios, e há clássicos estudos na literatura cardiológica que demonstram
que, quando se tinha o uso do AAS na fase inicial do infarto, isso fez uma
diferença de 25% na mortalidade. Foi o pontapé inicial do que está
consolidado”, recomenda ele.
Nas doses de 200 a 300 mg o
AAS não tem efeitos antitérmicos em adultos. “Nessa dose baixa não funciona
como analgésico e antitérmico [como no caso do AAS adulto, que é de 500 mg]. É
um antiagregante plaquetário. Ele muda e deixa o sangue menos viscoso”, diz
Jardim.
Soeiro, no entanto, lembra
que o AAS não deve ser consumido indiscriminadamente, já que, como qualquer
medicamento, pode haver efeitos colaterais.
Heron Rached, cardiologista
do Hospital Bandeirantes, diz que é importante que a população faça check-ups
regulares para avaliar o risco de infarto. “Paciente que já enfartou uma vez,
tem possibilidade de ter outro infarto, então ele já faz uso da medicação
[AAS]”, diz ele. “O ideal é fazer avaliação do risco, se tem diabetes, é fumante,
entre outros”, recomenda.
Já quando se fala da
recomendação de tossir a cada dois segundos para interromper um infarto, a
avaliação dos profissionais é outra: ela não procede, segundo os
cardiologistas.
Entretanto, segundo César
Jardim, em alguns casos muito específicos, forçar uma tosse poderia ajudar.
“São situações específicas que só o médico percebe, como quando há alguma
alteração do ritmo, em que vai ter um reflexo vagal. É uma questão muito
técnica”, diz ele, ressaltando que a pessoa que está enfartando não conseguirá
perceber isso.
“O infarto pode acontecer de
muitas maneiras, evoluir de formas diferentes. Alguns têm muita dor, alteração
de pressão, arritmias cardíacas, uma série de situações. E, só em algumas
situações específicas de alguns distúrbios do ritmo, a tosse poderia trazer
algum benefício”, completa.
O cardiologista do Incor
explica que tossir, ao menos, não fará nenhum mal a quem está enfartando.
Se tossir não traz riscos, o
mesmo não se pode falar de deitar e dormir. Os profissionais também
categóricos: é proibido deitar, dormir e deixar de ir ao hospital quando se
está enfartando.
“Na verdade, o paciente não
deve deitar para dormir, justamente porque deve ir ao hospital mais próximo”,
brinca Alexandre Soeiro. “Quanto ao movimento de deitar em uma cama dentro do
hospital, por exemplo, não existe nada relacionado a isso”, tranquiliza.
Por Elioenai Paes - iG São
Paulo.
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