Conheça como está
acontecendo a migração virtual e o segredo do sucesso das redes sociais
temáticas.
As redes sociais, como a
maior parte dos serviços da internet, costumam seguir uma curva de crescimento
— com altos números de acesso — e, em seguida, de queda. Isso pode ser visto,
por exemplo, no Facebook, que começou a fazer sucesso em 2008 e se espalhou
pelo mundo como uma epidemia. No entanto, pesquisas indicam que o site de Mark
Zuckerberg deve perder 80% dos usuários até 2017. E para onde eles estão indo?
Para plataformas segmentadas.
Aplicativos móveis e sites
de relacionamento têm surgido para agradar a grupos com características bem
particulares — até para cachorros (veja lista abaixo). Um desses casos é o
FaceGlória, rede social similar ao Facebook criada em junho de 2015 e que já
conta com mais de 200 mil membros.
O FaceGlória foi pensado
para o público evangélico, como contraponto às redes sociais tradicionais.
Segundo Acir Filló, um dos idealizadores, as plataformas convencionais permitem
a divulgação de conteúdo que fere os princípios cristãos. O preconceito sofrido
pelo público evangélico nos demais sites de relacionamento é apontado por Filló
como segundo fator de influência na criação do site.
Filló afirma que a rede
social não tem vinculação política alguma e não pertence a igrejas específicas.
Ele esclarece que a finalidade não é gerar polêmica entre a comunidade não
cristã. “Temos uma equipe de 20 pessoas para bloquear conteúdos impróprios e
softwares que não permitem palavrões”, comenta.
Os termos de uso são
controversos, pois dizem respeito a questões morais. Para criar uma conta, é
necessário ser cristão e estar disposto a denunciar condutas inaceitáveis, como
divulgar fotos de casais homossexuais e de consumo de álcool e drogas. Apesar
disso, Filló afirma que há espaço para todos. “Nessa rede, todos são
bem-vindos, desde que respeitem os princípios cristãos, a família e as
crianças.”
O fenômeno das redes sociais
destinadas a um público restrito, a exemplo do FaceGlória, tem aspectos
positivos, como avalia a psicóloga social Ana Cristina Alencar, da Universidade
Católica de Brasília. Há, por exemplo, o fortalecimento dos nichos de
interesse. De acordo com Ana, é impossível que todos os membros de um grupo
numeroso se associem mutuamente, pois os integrantes não têm valores,
interesses e ideias obrigatoriamente idênticos. Quando há divergência em um
grupo maior, formam-se os nichos, grupos menores.
Leitura on-line
Assim como os evangélicos
têm um site de relacionamentos exclusivo, amantes da literatura, por exemplo,
precisam de recursos que uma rede social mais global não oferece. O Skoob —
books (livros) ao contrário — surgiu em 2009, idealizada por Lindenberg
Moreira, para se adequar às necessidades do público viciado em livros.
Vinculado a outras redes
sociais, como Facebook e Twitter, o Skoob oferece ferramentas como a “meta de
leitura”, que mostra a quantidade média de páginas lidas por dia. Na
plataforma, é possível registrar livros lidos, os que estão em andamento e
desistências, além de avaliações e resenhas de títulos — tudo de graça. Os
membros podem combinar troca de títulos com usuários de qualquer lugar do
Brasil e participar de sorteios realizados pelo site.
Sem o Skoob, Karolayne
Barbosa, 23 anos, não teria descoberto alguns de seus livros preferidos. A
estudante usa a rede social há mais de cinco anos para registrar o que leu,
está lendo ou quer ler. “O que mais me atrai é a possibilidade de ter sua
própria estante virtual e catalogar seus livros”, diz.
Como usuária, ela avalia que
a interface do site ficou mais elegante ao longo do tempo. Entretanto, fóruns e
comunidades são as áreas menos acessadas por ela, que já produziu resenhas de
livros como A sangue frio, de Truman Capote, e O pequeno príncipe, de Antoine
de Saint-Exupéry. “Escrevo para exercitar a escrita e a leitura, porque gosto
muito”, conta. A estudante só fica longe do recurso de troca de exemplares:
“Nunca empresto! Sou muito apegada aos meus livros”.
Assim como o Skoob, o
FaceGlória representa um grupo social baseado em interesses e valores. A
formação de nichos como esses, por um lado, é benéfica: “Os interesses são
fortalecidos quando o grupo é mais coeso, porque os membros não precisam lidar
com situações de conflito”, explica a psicóloga Ana Cristina Alencar.
A parte negativa da
história, na opinião da profissional, também é derivada de conflitos — não mais
internos ao grupo, mas entre eles. Para que não se reforce uma lógica
preconceituosa entre turmas maiores e menores, melhores e piores, há uma saída:
“Podemos aproveitar os aspectos positivos das redes sociais e discutir os
negativos, para evitar que a utilização delas seja motivo de desagregação
social, exclusão e violência”, conclui.
Escolha a sua
O Correio/Diário preparou
uma lista de redes sociais segmentadas, que prometem agradar a públicos com as
mais diversas preferências:
Kickoff
Aplicativo conhecido como o
“Tinder pra quem busca namoro sério”, o Kickoff rastreia os contatos do usuário
no Facebook e inicia a exibição de possíveis parceiros e suas características
pessoais, como escolaridade, emprego e religião. O usuário só entra em contato
com amigos de seus amigos, e a quantidade deles é limitada por dia — não passa
de 10. Para utilizar, basta fazer o download do app no celular, disponível para
Android e iOS.
Ashley Madison
Criada especialmente para
usuários que já estão num relacionamento sério, a rede social é conhecida pelo
slogan “A vida é curta. Curta um caso”. O site não cobra assinaturas mensais.
Se quiser utilizá-lo, o usuário deverá pagar cinco “créditos” para iniciar uma
conversa com alguém. As contas podem ser ocultadas gratuitamente, mas, para
excluí-las, é necessário efetuar pagamento em dinheiro.
Luxy
Similar ao Tinder, o Luxy
tem o diferencial de unir pessoas ricas e bem-sucedidas. Apesar de promover
encontros entre ricos e milionários, o aplicativo é aberto para quem quiser
acessá-lo. As únicas restrições são possuir uma conta no Facebook, ter
smartphone Android ou iOS e estar disposto a pagar caro — o pacote de um mês de
uso custa US$ 99,99, cerca de R$ 315,00.
Ello
Para quem está cansado de
ter dados particulares usados por redes sociais, a Ello é uma alternativa
interessante. Diferentemente de outras redes, a Ello não vende anúncios nem
dados dos usuários para terceiros. Para a rede social, menos é mais: não há
divulgação de anúncios e o design é minimalista. Para fazer parte da
plataforma, é preciso receber um convite, como nos tempos iniciais do Orkut.
Tindog
Pensado para usuários
apaixonados por cães, o aplicativo conhecido como “Tinder para cachorros” é compatível
com dispositivos Android e iOS. A plataforma permite aos usuários encontrar
outros amantes de cães perto de casa, conversar e trocar fotos dos pets em
tempo real, além de marcar encontros.
Moovz
Pensado para gays,
bissexuais, lésbicas e transexuais de todo o mundo, Moovz é uma rede social que
conecta esse público em tempo real. A plataforma permite dividir experiências
com os amigos, encontrar pessoas próximas com interesses em comum por meio de
GPS e usar a ferramenta “momentos” para acompanhar assuntos relevantes. O
aplicativo é grátis e está disponível para dispositivos móveis e computador.
OnGood
Criada para organizações sem
fins lucrativos, instituições de caridade e ONGs de todo o mundo, a rede social
funciona como uma espécie de Facebook e é gratuita. Os membros são cadastrados
em um diretório de pesquisas, podem criar páginas de perfil para mostrar as
causas nas quais são engajados, compartilhar informações, links e coletar
doações que vão diretamente para a conta da organização.
Três perguntas para Anderson
Alves, especialista em marketing digital.
Por que as pessoas estão
abandonando as redes sociais tradicionais?
Depende muito do segmento e
do público. Mulheres mais velhas acessam bastante a rede de Zuckeberg, por
exemplo, não só para se conectar com os outros, mas também para jogar. Depende
também do país. Se, no Brasil, o cenário é esse, na Inglaterra, por exemplo, os
jovens acessam mais o YouTube do que assistem à televisão. Essa queda nos
acessos acontece nos EUA, mas não é regra. No Leste Europeu, a popularidade
cresce.
De que maneira as redes
sociais tradicionais podem evitar o desaparecimento total?
Conectando-se a outras redes
e adicionando à plataforma aplicativos, como já tem acontecido. No mundo das
startups, os negócios migram. Desaparecer ou não depende muito da inteligência
de marketing da empresa, de quais são os segmentos pretendidos por ela e,
principalmente, de quem está no comando. A Apple, por exemplo, lança produtos
de alta qualidade, mas que são apenas melhoramentos de outros já existentes.
Não houve nada inovador depois da morte do cérebro da organização, Steve Jobs.
É possível que redes sociais
segmentadas alcancem sucesso equivalente ao do Facebook?
Depende do que as pessoas
entendem por sucesso. Há dois lados: dinheiro e popularidade. Para ganhar
dinheiro com o Facebook, há que se pensar em estratégia e usar a rede para
isso, como os empreendedores têm feito no Brasil. Eu apostaria numa rede
voltada especialmente para celulares, a bola da vez. Mas, para fazer sucesso
mesmo, é necessário apostar em fusões empresariais. Uma fusão entre Facebook e
Google seria imbatível.
Do Diário de Pernambuco.
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