Do professor universitário
garanhuense e cientista político da UFPE Michel Zaidan:
Em recente almoço de
confraternização, desfrutei de uma oportunidade rara: receber uma verdadeira
aula sobre o atual grupo no poder hoje em Pernambuco. E de uma fonte interna ao
grupo dominante, desde a época de diretório estudantil. Em primeiro lugar, uma
distinção didática e muito clara sobre a divisão de trabalho que deveria ter se
estabelecido no interior dessa oligarquia local, entre os assim chamados
"estrategistas", ganhadores de eleição, e os "gerentes", os
que deveriam ocupar os cargos depois da competição eleitoral.
Os primeiros constituem
naturalmente a liderança política, dotada de capacidade aglutinadora, formulação
política, soldar as alianças, escolher os nomes de confiança e garantir sua
eleição. Os segundos, os mandatários escolhidos - a dedo, seguindo uma
fidelidade canina - para executar o plano, a estratégia dos formuladores ou
líderes. Aqui, o chefe ou o líder era, como se sabe, o ex-governador de
Pernambuco, falecido em avião "emprestado" pelo sócio, o fazendeiro e
presidente da Copergás.
Os prepostos, o atual
governador (casado com a prima da ex-primeira dama) e o atual prefeito. A banda
deveria tocar assim: um manda e os outros executam, ou obedecem, até porque, na
condição de auditores, não tinham a menor experiência política ou de ocupação
de cargos públicos, como gestores municipais ou estaduais.
Mas o critério de escolha
era outro: a fidelidade canina ao chefe. Morto misteriosamente em desastre
aéreo, até hoje não esclarecido, os gerentes tornaram-se, num passe de mágica,
em políticos. De meros ajudantes, em mandantes ou ordenadores de despesas, num
grave contexto de restrições fiscais e orçamentárias e em oposição ao governo
federal.
Começou a tragédia
administrativa no Estado de Pernambuco: Arena condenada, túneis inundados,
obras da mobilidade inacabadas, hospitais de referência caindo aos pedaços,
greve na educação, greve nos transportes públicos, a farsa do Pacto pela Vida,
crise no Judiciário.
Como não tinha ninguém para
ocupar o lugar do chefe, a não ser a viúva, os filhos, o cunhado e a mãe, as
criaturas passaram a ganhar vida e ensaiar uma política que nunca tiveram ou
foram capazes de fazer. Estabeleceu-se aos poucos uma autofagia interna entre
os membros da "entourage". Cada um querendo tomar o lugar do outro, a
vaga de senador, de deputado, de prefeito.
Sem o chefe, todos
aumentaram o seu cacife político, por conta própria, dando início a
desagregação do grupo político. Aliados de ontem já ensaiam candidatura própria
para as eleições de 2017. E bem a propósito de eleições, a matriarca resolveu
dar um recado, para dizer o quanto não está sendo bem considerada na atual
situação política do Estado: vem estimulando a candidatura de um dos filhos a
uma prefeitura municipal vizinha, para dizer que está vivíssima e disposta a
dar sua modesta colaboração pelo progresso de Pernambuco.
Pelo visto, o espólio
político de ex-governador tornou-se alvo de uma dura disputa entre seus
correligionários e familiares que só está começando.
Do Blog de Roberto Almeida.
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