domingo, 9 de agosto de 2015

Facebook começa a ficar em baixa.


Conheça como está acontecendo a migração virtual e o segredo do sucesso das redes sociais temáticas.

As redes sociais, como a maior parte dos serviços da internet, costumam seguir uma curva de crescimento — com altos números de acesso — e, em seguida, de queda. Isso pode ser visto, por exemplo, no Facebook, que começou a fazer sucesso em 2008 e se espalhou pelo mundo como uma epidemia. No entanto, pesquisas indicam que o site de Mark Zuckerberg deve perder 80% dos usuários até 2017. E para onde eles estão indo? Para plataformas segmentadas.

Aplicativos móveis e sites de relacionamento têm surgido para agradar a grupos com características bem particulares — até para cachorros (veja lista abaixo). Um desses casos é o FaceGlória, rede social similar ao Facebook criada em junho de 2015 e que já conta com mais de 200 mil membros.

O FaceGlória foi pensado para o público evangélico, como contraponto às redes sociais tradicionais. Segundo Acir Filló, um dos idealizadores, as plataformas convencionais permitem a divulgação de conteúdo que fere os princípios cristãos. O preconceito sofrido pelo público evangélico nos demais sites de relacionamento é apontado por Filló como segundo fator de influência na criação do site.

Filló afirma que a rede social não tem vinculação política alguma e não pertence a igrejas específicas. Ele esclarece que a finalidade não é gerar polêmica entre a comunidade não cristã. “Temos uma equipe de 20 pessoas para bloquear conteúdos impróprios e softwares que não permitem palavrões”, comenta.

Os termos de uso são controversos, pois dizem respeito a questões morais. Para criar uma conta, é necessário ser cristão e estar disposto a denunciar condutas inaceitáveis, como divulgar fotos de casais homossexuais e de consumo de álcool e drogas. Apesar disso, Filló afirma que há espaço para todos. “Nessa rede, todos são bem-vindos, desde que respeitem os princípios cristãos, a família e as crianças.”

O fenômeno das redes sociais destinadas a um público restrito, a exemplo do FaceGlória, tem aspectos positivos, como avalia a psicóloga social Ana Cristina Alencar, da Universidade Católica de Brasília. Há, por exemplo, o fortalecimento dos nichos de interesse. De acordo com Ana, é impossível que todos os membros de um grupo numeroso se associem mutuamente, pois os integrantes não têm valores, interesses e ideias obrigatoriamente idênticos. Quando há divergência em um grupo maior, formam-se os nichos, grupos menores.

Leitura on-line

Assim como os evangélicos têm um site de relacionamentos exclusivo, amantes da literatura, por exemplo, precisam de recursos que uma rede social mais global não oferece. O Skoob — books (livros) ao contrário — surgiu em 2009, idealizada por Lindenberg Moreira, para se adequar às necessidades do público viciado em livros.

Vinculado a outras redes sociais, como Facebook e Twitter, o Skoob oferece ferramentas como a “meta de leitura”, que mostra a quantidade média de páginas lidas por dia. Na plataforma, é possível registrar livros lidos, os que estão em andamento e desistências, além de avaliações e resenhas de títulos — tudo de graça. Os membros podem combinar troca de títulos com usuários de qualquer lugar do Brasil e participar de sorteios realizados pelo site.

Sem o Skoob, Karolayne Barbosa, 23 anos, não teria descoberto alguns de seus livros preferidos. A estudante usa a rede social há mais de cinco anos para registrar o que leu, está lendo ou quer ler. “O que mais me atrai é a possibilidade de ter sua própria estante virtual e catalogar seus livros”, diz.

Como usuária, ela avalia que a interface do site ficou mais elegante ao longo do tempo. Entretanto, fóruns e comunidades são as áreas menos acessadas por ela, que já produziu resenhas de livros como A sangue frio, de Truman Capote, e O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. “Escrevo para exercitar a escrita e a leitura, porque gosto muito”, conta. A estudante só fica longe do recurso de troca de exemplares: “Nunca empresto! Sou muito apegada aos meus livros”.

Assim como o Skoob, o FaceGlória representa um grupo social baseado em interesses e valores. A formação de nichos como esses, por um lado, é benéfica: “Os interesses são fortalecidos quando o grupo é mais coeso, porque os membros não precisam lidar com situações de conflito”, explica a psicóloga Ana Cristina Alencar.

A parte negativa da história, na opinião da profissional, também é derivada de conflitos — não mais internos ao grupo, mas entre eles. Para que não se reforce uma lógica preconceituosa entre turmas maiores e menores, melhores e piores, há uma saída: “Podemos aproveitar os aspectos positivos das redes sociais e discutir os negativos, para evitar que a utilização delas seja motivo de desagregação social, exclusão e violência”, conclui.

Escolha a sua

O Correio/Diário preparou uma lista de redes sociais segmentadas, que prometem agradar a públicos com as mais diversas preferências:

Kickoff

Aplicativo conhecido como o “Tinder pra quem busca namoro sério”, o Kickoff rastreia os contatos do usuário no Facebook e inicia a exibição de possíveis parceiros e suas características pessoais, como escolaridade, emprego e religião. O usuário só entra em contato com amigos de seus amigos, e a quantidade deles é limitada por dia — não passa de 10. Para utilizar, basta fazer o download do app no celular, disponível para Android e iOS.

Ashley Madison

Criada especialmente para usuários que já estão num relacionamento sério, a rede social é conhecida pelo slogan “A vida é curta. Curta um caso”. O site não cobra assinaturas mensais. Se quiser utilizá-lo, o usuário deverá pagar cinco “créditos” para iniciar uma conversa com alguém. As contas podem ser ocultadas gratuitamente, mas, para excluí-las, é necessário efetuar pagamento em dinheiro.

Luxy

Similar ao Tinder, o Luxy tem o diferencial de unir pessoas ricas e bem-sucedidas. Apesar de promover encontros entre ricos e milionários, o aplicativo é aberto para quem quiser acessá-lo. As únicas restrições são possuir uma conta no Facebook, ter smartphone Android ou iOS e estar disposto a pagar caro — o pacote de um mês de uso custa US$ 99,99, cerca de R$ 315,00.

Ello

Para quem está cansado de ter dados particulares usados por redes sociais, a Ello é uma alternativa interessante. Diferentemente de outras redes, a Ello não vende anúncios nem dados dos usuários para terceiros. Para a rede social, menos é mais: não há divulgação de anúncios e o design é minimalista. Para fazer parte da plataforma, é preciso receber um convite, como nos tempos iniciais do Orkut.

Tindog

Pensado para usuários apaixonados por cães, o aplicativo conhecido como “Tinder para cachorros” é compatível com dispositivos Android e iOS. A plataforma permite aos usuários encontrar outros amantes de cães perto de casa, conversar e trocar fotos dos pets em tempo real, além de marcar encontros.

Moovz

Pensado para gays, bissexuais, lésbicas e transexuais de todo o mundo, Moovz é uma rede social que conecta esse público em tempo real. A plataforma permite dividir experiências com os amigos, encontrar pessoas próximas com interesses em comum por meio de GPS e usar a ferramenta “momentos” para acompanhar assuntos relevantes. O aplicativo é grátis e está disponível para dispositivos móveis e computador.

OnGood

Criada para organizações sem fins lucrativos, instituições de caridade e ONGs de todo o mundo, a rede social funciona como uma espécie de Facebook e é gratuita. Os membros são cadastrados em um diretório de pesquisas, podem criar páginas de perfil para mostrar as causas nas quais são engajados, compartilhar informações, links e coletar doações que vão diretamente para a conta da organização.

Três perguntas para Anderson Alves, especialista em marketing digital.

Por que as pessoas estão abandonando as redes sociais tradicionais?

Depende muito do segmento e do público. Mulheres mais velhas acessam bastante a rede de Zuckeberg, por exemplo, não só para se conectar com os outros, mas também para jogar. Depende também do país. Se, no Brasil, o cenário é esse, na Inglaterra, por exemplo, os jovens acessam mais o YouTube do que assistem à televisão. Essa queda nos acessos acontece nos EUA, mas não é regra. No Leste Europeu, a popularidade cresce.

De que maneira as redes sociais tradicionais podem evitar o desaparecimento total?

Conectando-se a outras redes e adicionando à plataforma aplicativos, como já tem acontecido. No mundo das startups, os negócios migram. Desaparecer ou não depende muito da inteligência de marketing da empresa, de quais são os segmentos pretendidos por ela e, principalmente, de quem está no comando. A Apple, por exemplo, lança produtos de alta qualidade, mas que são apenas melhoramentos de outros já existentes. Não houve nada inovador depois da morte do cérebro da organização, Steve Jobs.

É possível que redes sociais segmentadas alcancem sucesso equivalente ao do Facebook?

Depende do que as pessoas entendem por sucesso. Há dois lados: dinheiro e popularidade. Para ganhar dinheiro com o Facebook, há que se pensar em estratégia e usar a rede para isso, como os empreendedores têm feito no Brasil. Eu apostaria numa rede voltada especialmente para celulares, a bola da vez. Mas, para fazer sucesso mesmo, é necessário apostar em fusões empresariais. Uma fusão entre Facebook e Google seria imbatível.
Do Diário de Pernambuco. 

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