A transposição do Rio São Francisco dá mais uma prova de seu
descompasso. Pelo prazo original, toda a megaobra deveria ser entregue este
ano, o que seria um alívio para parte das vítimas da forte seca que atinge o
Nordeste. Porém, enquanto o Exército comemora entregar o primeiro e único lote
da transposição a ficar pronto, em Cabrobó, o Ministério da Integração Nacional
confirma ao JC a parada total de dois novos trechos da transposição, o lote 9,
em Floresta, e o 6, em Mauriti, no Ceará.
A ideia de tirar água do São Francisco e distribuir no
Semiárido vem do Brasil Colônia. Depois de mais de um século de idas e vindas,
em 2007, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a tirar a
obra do papel. Mas a transposição começou a ser executada com projetos de baixa
qualidade e com ritmo ditado pelo calendário político de 2010, ano de eleições
presidenciais. Como resultado, prazos e orçamento estouraram.
Toda a obra tem 36% de execução, segundo dados oficiais. São
dois canais que somam 713 quilômetros, o Eixo Leste e o Norte. Toda a obra
custaria R$ 4,5 bilhões, em valores originais, e seria entregue em 2012. Com o
tempo e os aumentos, agora ela é prevista para 2015, ao custo de R$ 8,2
bilhões.
Em fevereiro deste ano, a presidente Dilma Rousseff fez sua
primeira visita oficial à transposição, desde que assumiu a Presidência. Ela
cobrou resultado às empreiteiras. Mas a realidade foi outra.
O único lote a cumprir o prazo original e entregue pelo
Exército, um trecho pequeno do Eixo Norte, composto pelo canal de aproximação,
uma estação elevatória e a Barragem de Tucutu. Na prática, são 4 quilômetros
entre o rio e a barragem, enquanto todo o Eixo Norte tem 420 km e foi concebido
para beneficiar quatro Estados: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Ceará.
Enquanto isso, no lote 9, em Floresta, não se trata apenas
de uma parada, mas de rescisão contratual. O trecho é de 54 km, com 52% de
execução física, a cargo do Consórcio Camter/Egesa. Ele fica no Eixo Leste e é
o trecho seguinte à tomada de água no São Francisco, em Floresta. De acordo com
o Ministério da Integração Nacional, o lote 9 chegou a ter aditivo contratual
assinado para o consórcio não abandonar as obras, suspensas desde o início do
ano.
“Entretanto, até a presente data a empresa Camter não trouxe
as garantias. O gestor do contrato está fazendo um parecer favorável à rescisão
contratual”, informa, em nota, o ministério.
Além disso, o lote 6, de 39 km em Mauriti, o mesmo que ficou
conhecido pelas placas de concreto quebradas em um segmento que supostamente
estava pronto, parou também. O lote tem à frente a Delta Construções, envolvida
no escândalo com o bicheiro Carlos Cachoeira, em consórcio com a EIT e Getel, e
foi alvo de auditoria da Controladoria Geral da União (CGU). Mais de 300
demissões já foram concluídas.
Outros lotes parados após rescisão contratual e à espera de
nova concorrência pública são o 3, em Salgueiro, o 4, em Penaforte (CE), o 5 em
Jati (CE, já em licitação) e o 7 em São José de Piranhas. Questionado, o
ministério não comentou se o atual prazo de entrega da transposição será
mantido.
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