O ex-presidente da Camargo
Corrêa e delator da Lava Jato, Dalton dos Santos Avancini, afirmou aos
investigadores da operação ter se encontrado em 2010 com o empresário e
ex-sócio de Eduardo Campos Aldo Guedes Álvaro no shopping Iguatemi, em São
Paulo, para acertar o suposto pagamento de propina de R$ 20 milhões da
empreiteira para abastecer o caixa 2 da campanha à reeleição do então
governador de Pernambuco.
A primeira citação aos R$ 20
milhões foi feita pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto
Costa, primeiro delator da Lava Jato – ele citou deputados, senadores,
governadores e ex-parlamentares que teriam sido beneficiários de recursos
ilícitos tirados de contratos de empreiteiras com a estatal petrolífera.
Aldo Guedes Álvaro é
investigado pela Polícia Federal por suspeita de ser o verdadeiro dono do
jatinho usado na campanha de Campos no ano passado e também foi alvo de buscas
durante a Operação Politeia, desdobramento da Lava Jato que investiga políticos
no Supremo Tribunal Federal. Após a operação, em julho, o empresário deixou o
cargo de presidente da Companhia Pernambucana de Gás, Copergás, estatal de
Pernambuco, Estado atualmente administrado por Paulo Câmara (PSB), herdeiro
político de Campos.
Homem de confiança de
Campos, Guedes era seu sócio na Fazenda Esperança, área de 210 hectares, e na
Agropecuária Nossa Senhora de Nazaré, em Brejão (PE). Ele também é casado com
uma prima da família.
‘Contribuição’. No encontro, relatou Avancini,
Aldo teria cobrado a “contribuição” de R$ 20 milhões e afirmado que ela havia
sido prometida pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto
Costa. O valor deveria ser pago pelas empresas que tinham conseguido contratos
nas obras da Refinaria de Abreu e Lima, megaempreendimento da estatal no Estado
de Pernambuco, dentro do esquema de corrupção instalado na Petrobrás.
Na época diretor de Óleo e
Gás da Camargo, Avancini afirmou a Aldo que a empresa não teria condições de
arcar com este valor, o que teria deixado Aldo contrariado. “Que, observa que Antônio
Miguel Marques (na época presidente da Camargo), ao que recorda, lhe informou
que o teto máximo da contribuição a ser fornecida pela Camargo seria de 12
milhões de reais; que, ao informar a Aldo Guedes qual seria o teto da
contribuição da Camargo, Aldo ficou contrariado e disse que isso não era o
combinado, todavia acabou aceitando a proposta e mencionou que o valor deveria
ser disponibilizado rapidamente”, relatou o executivo aos investigadores.
Avancini então respondeu que
não poderia fazer a transferência tão rápido, pois “iria ser estudada uma forma
de realizar o repasse”. Apesar de contrariado, Aldo Guedes acabou aceitando.
Posteriormente, segundo o delator, a tarefa de viabilizar o repasse da propina
foi encaminhada ao então gerente de contrato da Camargo Corrêa para a RNEST,
Paulo Augusto Santos da Silva. O valor repassado para o caixa dois teria sido,
então de R$ 8,7 milhões por meio de um contrato de fachada da empreiteira com a
empresa Master Terraplenagem.
A Camargo Corrêa vem
colaborando com as investigações da Lava Jato e tem evitado comentar as
delações de seus executivos. A reportagem entrou em contato com o PSB, mas não
obteve retorno do partido até a conclusão do texto. Quando questionado sobre a
suposta propina a Campos, a sigla afirmou por meio de nota:
“O Partido Socialista
Brasileiro (PSB) informa que todos os recursos que financiaram as campanhas de
Eduardo Campos para o governo de Pernambuco foram arrecadados legalmente.
Inclusive, a conta referente a 2010 foi aprovada pelo Tribunal Regional
Eleitoral de Pernambuco.”
A reportagem tentou contato
por telefone com Aldo Guedes Álvaro, mas o empresário não atendeu as ligações e
nem retornou as mensagens. A reportagem também entrou em contato com o
escritório do advogado de Aldo, mas não conseguiu falar com ele.
POR MATEUS COUTINHO, ANDREZA
MATAIS, JULIA AFFONSO E RICARDO BRANDT – para o Jornal Estado de São Paulo.
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