Se você, que reside no Nordeste, for questionado por algum turista se ainda existem muitos índios na sua região, qual resposta daria? Diria que aqui não tem índios e que eles vivem na floresta amazônica? Ou diria que a nossa região possui 27,8% dos indígenas brasileiros, perdendo apenas para o Norte (32%), e que poderemos encontrá-los tanto nas áreas urbanas como nas rurais?
A segunda resposta é a correta, mas se a sua foi a primeira opção, não se culpe por isso. De acordo com o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e consultor da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), Marcondes Secundino, até os anos 80, era imposto à população indígena do Nordeste "mecanismos" de invisibilidade. "Os índios foram ignorados e destituídos de sua cultura. As elites tinham interesse em apagar a presença indígena até mesmo por meio de documentos. Na visão das autoridades, só seriam verdadeiramente indígenas os que exibissem os estereótipos raciais e culturais", explicou Secundino.
Ao mesmo tempo em que exigiam uma "condição" para reconhecer os índios, as autoridades buscavam "eliminar" sua cultura. Deixar de falar a língua foi uma imposição inclusive dos colonizadores. Se os índios não a respeitassem, corriam o risco de serem perseguidos, de não conseguirem trabalho e de sofrerem preconceito. "É claro que um processo histórico dessa natureza, que perdura por cerca de cinco séculos, provoca sérias consequências. Os impactos existem até hoje", disse o pesquisador.
Com o objetivo de combater argumentos equivocados que continuam a negar ao indígena do Nordeste o reconhecimento dos seus direitos,
sobretudo na demarcação das terras, a Fundação Joaquim Nabuco e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram o livro “A Presença Indígena no Nordeste”. A publicação traz textos de historiadores e antropólogos que refletem um pensamento crítico em relação à forma preconceituosa e superficial com que, de modo geral, esses índios têm sido percebidos pela sociedade.
sobretudo na demarcação das terras, a Fundação Joaquim Nabuco e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram o livro “A Presença Indígena no Nordeste”. A publicação traz textos de historiadores e antropólogos que refletem um pensamento crítico em relação à forma preconceituosa e superficial com que, de modo geral, esses índios têm sido percebidos pela sociedade.
"O livro busca mostrar para a população que essa visão é resultado das estratégias das autoridades políticas e econômicas. Pois, quando o Estado reconhece que existe um povo indígena em determinado lugar, precisa assegurar os seus direitos coletivos e demarcar a terra. Para os governantes, é melhor não reconhecê-los porque assim não precisará entrar em conflito com as elites locais e fundiárias", afirmou Secundino, que possui um artigo publicado no livro.
ONDE ESTÃO OS ÍNDIOS? - Em relação à população indígena, a divisão regional brasileira é diferente do território geográfico convencional. Trata-se um mapa geopoliticamente pensado na história da população indígena. A região Nordeste (chamada também de Nordeste-Leste) exclui o estado do Maranhão (que integra o Norte) e inclui os estados do Espírito Santo e Minas Gerais.
A região Nordeste (ou Nordeste-Leste) abriga cerca de 80 povos indígenas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, em termos de contingente populacional, a Bahia é o terceiro estado em população indígena no Brasil e primeiro no Nordeste, com 56.381 índios. Pernambuco é o segundo da região e o 4º do País, com 53.284.
Mesmo sendo perseguidos, os índios conseguiram se articular dentro de uma rede étnica regional. Nos séculos 18 e 19, por exemplo, existiam lugares de refúgio de índios e negros. “Em Pernambuco, sobretudo no Sertão, era muito comum que algumas comunidades indígenas compartilhassem espaços geográficos com os quilombolas”, explicou Marcondes Secundino.
De acordo com o pesquisador, embora o processo de democratização no País, na década de 80, tenha contribuído para autodeterminação dos indígenas, já que as pessoas antes discriminadas puderam se afirmar como indígenas, o governo não avançou no reconhecimento territorial.
Fizemos uma pesquisa e descobrimos que hoje o Nordeste possui cerca de 110 situações territoriais (locais onde residem os povos indígenas), porém menos de 30% dessas situações estão regularizadas. É um problema seríssimo. As elites continuam com força política para impedir o processo de demarcação desses territórios. Assistimos neste momento o drama dos Pataxó Hahahãe na Bahia, entre tantos outros ", disse o pesquisador.
A maioria dos territórios indígenas do Nordeste está localizada nas áreas rurais e tem como principal atividade a agricultura e o artesanato. Assim como outros moradores dessas localidades, muitos índios trabalham no comércio, são funcionários públicos e atuam também como professores e agentes de saúde. Segundo Secundino, "no Ceará, a atividade é um pouco atípica porque existe a presença indígena na Região Metropolitana e, por isso, alguns são empregados no setor industrial".
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