O presidente do Datapopular,
Renato Meirelles, diz que pesquisa do instituto “mostrou que, para 67% dos
brasileiros, a corrupção é a principal motivadora da crise econômica que o
nosso país vive hoje”. Segundo ele, a percepção é que o preço da gasolina subiu
por causa da corrupção na Petrobras.
“A corrupção passou a ser
vista como culpada de toda essa crise econômica. E é por isso que o brasileiro
nunca esteve tão intolerante com relação à corrupção”, afirma Meirelles.
De acordo com ele, o governo
e a oposição recorreram a estelionato eleitoral na campanha de 2014. A
presidente Dilma Rousseff frustrou o eleitorado que votou nela por não cumprir
o que prometeu.
Já a oposição defendeu
austeridade mas votou a favor da “pauta-bomba”. Na opinião de Meirelles, “a
oposição errou ao não conseguir apontar uma solução para a economia do país”.
“O estelionato existiu dos
dois lados”, avalia.
Segundo Meirelles, o
ex-presidente Lula seria o candidato mais “competitivo” em 2018 “em condições
normais de temperatura e pressão”. Ele considera que a elevada taxa de rejeição
do petista diminuiria e que outros presidenciáveis também índice objeção nas
alturas.
No entanto, Meirelles não
crê que em 2018 haverá um cenário com condições normais de temperatura e
pressão. “Não é o que eu acho que vá acontecer nas próximas eleições
presidenciais. O cenário de descontentamento com a classe política é tão
grande, a insatisfação popular é tão grande, que pode surgir um nome que ainda
não está posto nas candidaturas [atuais].”
Indagado se via risco de um
“outsider”, um salvador da pátria, responde: “Vejo, sim, um risco do
“outsider”, mas não acredito que qualquer “outsider” seja necessariamente um
novo Collor ou um aventureiro. É possível que venha um “outsider” que tenha,
sim, muito a contribuir para que o Brasil consiga voltar a crescer, voltar a
oferecer igualdade de oportunidade a todos, que é a maior demanda da
população.”
Meirelles acredita que, se o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso orientar o próximo candidato tucano a
presidente, isso elevará a chance do PSDB na disputa. Para ele, se Marina Silva
(Rede) tiver aprendido com os erros em duas campanhas, poderá ser forte
candidata na próxima sucessão presidencial.
O presidente do Datapopular
acha que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tem chance de reeleição,
apesar das baixas popularidade e intenção de voto: “Podem me chamar de maluco,
mas tem. É um dos favoritos hoje na eleição municipal. […] Começa a se
constituir um rol de candidatos tão diversificados em que, sim, o Fernando
Haddad, com o discurso pró-cidade, talvez consiga convencer parcela do
eleitorado de que ele deva continuar e ter um segundo mandato”.
A respeito da Operação Lava
Jato, Meirelles afirma: “É importante nem que seja para botar medo nas empresas
e nos políticos. A gente pode discutir se a forma de condução da Lava Jato foi
a forma que melhor respeitou os preceitos democráticos de ampla defesa, isso é
uma discussão. Mas é indiscutível o papel educativo que a Lava Jato tem para
deixar muito claro de que não existe meio ladrão. Ladrão é ladrão. E não dá
para a ladroagem conviver com a democracia”.
Segue o texto com a íntegra
da entrevista ao SBT, gravada na última quinta-feira à noite, dia 19/11, em São
Paulo:
Kennedy Alencar – Estamos
chegando perto do final de 2015 e é importante fazer um balanço do ano. A
inflação está girando na casa dos 10%. Houve aumento do desemprego. A previsão
é de queda na economia. O PIB vai cair este ano. E há previsão de que 2016 seja
ruim. A gente chegou ao fundo do poço ou a crise ainda pode piorar?
Renato Meirelles – Se tem
uma coisa que aprendi nos últimos tempos é não subestimar o tamanho da crise.
Sempre pode piorar. O fato hoje é que 97% dos brasileiros acreditam que o país
está em crise. E 52%, que é a maior crise que o Brasil já viveu. E essa crise
faz com que, na verdade, ele não esteja enxergando luz no fim do túnel. O
Brasil vive uma crise econômica, mas a maior crise que o nosso país vive é uma
crise de perspectiva.
KA – Isso é só uma percepção
deles ou a vida da nova classe média piorou muito?
RM – Sem dúvida nenhuma,
piorou. É muito difícil para quem aprende a comer picanha voltar para o frango.
Para quem aprende a tomar champanhe voltar para a sidra. E esse brasileiro está
fazendo, ao seu modo, um ajuste fiscal doméstico. De um lado, ele está fazendo
bicos. De outro lado, fazendo economia. Chega no final do mês, ele olha para o
cartão de crédito, olha para a conta de luz, vê que não tem grana para pagar as
duas, atrasa a conta de luz porque tem juros um pouco menores e paga a conta do
cartão de crédito.
KA – A crise mudou o
cotidiano mesmo?
RM – É como se ele tivesse
que fazer esse ajuste fiscal doméstico. Nessa pedalada das contas, acaba
conseguindo passar para o dia seguinte o pagamento das contas que ele não dá
conta.
KA – No começo do mês, o
ex-presidente Lula deu uma entrevista ao SBT. Na opinião dele, a saída para a
crise é aumentar a oferta de crédito para as empresas, para o consumo das
famílias. Muitos economistas acham que o modelo de crescimento, porém, está
esgotado. Qual é a saída para a crise?
RM – A saída da crise, em primeiro lugar, é um
choque de otimismo na população. Por uma razão muito simples: pessimista compra
menos, pessimista gasta menos. E aí você tem um ciclo vicioso que faz com que a
economia caia. Por outro lado, se você consegue apontar a luz no fim do túnel,
consegue mostrar para esses brasileiros que ainda tem muita demanda para, por
exemplo, comprar computadores, smartphones ou máquinas de lavar roupa, consegue
mostrar que é possível ele conseguir alcançar o seu sonho. Sem dúvida nenhuma,
você consegue mexer com o dia a dia da economia brasileira.
KA – Então, o Lula tem
alguma razão?
RM – O Lula tem alguma
razão. E ele parte dessa razão em cima da sua experiência na crise de
2008/2009.
KA – O risco da intolerância
no debate público preocupa muitos políticos, muitas autoridades. Você mexe com
pesquisa o tempo inteiro. É perceptível um aumento da intolerância nesse debate
público, esse acirramento nas redes sociais? Que reflexos isso pode ter para o
país?
RM – A intolerância vem num
momento de agravamento da crise econômica, por um lado, e de um aumento da
participação dos brasileiros nas redes sociais, por outro, o que acaba
funcionando como uma grande caixa de ressonância da opinião das pessoas. Isso
tem um lado bom e tem um lado ruim. O lado ruim é que, de fato, fica muito
difícil hoje conversar sobre política. É mais fácil um palmeirense e um
corintiano de fato se entenderem do que duas pessoas que tenham pensamento
político diferente sentarem numa mesa de bar.
KA – Ou o Lula e o Fernando
Henrique conversarem. O Lula falou exatamente isto.
RM – Por outro lado, tem uma
coisa boa nisso. A internet coloca de fora um conjunto de pensamentos sem
dúvida nenhuma atrasados. Pensamentos como o racismo, o pensamento como o
machismo. As pessoas, ao darem opinião com isso e ao se exporem com isso,
conseguem trazer uma reação da opinião pública que faz com que, na média, o
Brasil caminhe para um lugar melhor.
KA – Renato, qual é a sua
avaliação do governo Dilma?
RM – Olha, a presidente
Dilma está sendo escrava daquilo que ela criou na campanha. Vamos entender o
que elegeu a presidente Dilma num primeiro momento, no primeiro mandato. Foi o
legado do presidente Lula e tudo aquilo que ela tinha de diferente do
presidente Lula. No segundo mandato, ela foi eleita por conta de um projeto de
país. Um projeto de país que tinha como espinha dorsal a busca por igualdade de
oportunidades. E que tinha, como razão, para se acreditar nesse projeto, o
Prouni, o Pronatec, o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. Projetos que não
aconteceram nesse primeiro ano do segundo mandato da presidente Dilma. Com
isso, a população se frustra.
KA – A população percebe
como um estelionato eleitoral?
RM – A população percebe uma grande frustração.
Isso é o que alimenta os altos índices de impopularidade da presidente da
República. Mas vamos entender o seguinte: boa parte dos analistas erra ao achar
que todos os que estão insatisfeitos com o governo pensam da mesma forma. Nas
pesquisas do Datapopular, a gente entende que, dos 80% que avaliam o governo
como ruim ou péssimo, nós temos aí 36 pontos percentuais que avaliam o governo
como ruim ou péssimo e são contra o projeto que existia no país nos últimos
anos. São contra o Prouni, o Bolsa Família, o Pronatec. E 44 pontos percentuais
estão decepcionados com o governo, mas defendem o projeto de país. Essa
diferença entre quem está insatisfeito com o governo é que leva com que o
impeachment não tenha ganho uma proporção popular muito maior do que poderia
ganhar.
KA – A discussão sobre o
impeachment da presidente Dilma está afastada de vez ou uma piora da economia
pode ressuscitar este tema?
RM – Sempre a priora na
economia piora a situação política. Mas, vamos entender de verdade por que ele
não avançou, independente das questões políticas. O impeachment não avançou
porque nenhuma força política no país foi capaz de propor uma solução
pós-impeachment. O brasileiro está, sim, muito insatisfeito com o governo. Mas
também não enxerga na oposição um projeto de país. As pesquisas nossas têm
apontado que esse brasileiro acha que um político fala mal do outro porque quer
o lugar dele, não porque quer melhorar a vida das pessoas. 92% dos brasileiros
acreditam que todo político é ladrão. Pois bem, eu vou derrubar um presidente e
vou colocar um outro que também não tem fama de ser honesto? É esta a discussão
que está posta nas mesas e cadeiras das casas brasileiras.
KA – A oposição, então,
errou ao transformar 2015 em um ano de discussão de impeachment e de corrupção?
Deveria ter discutido a crise econômica?
RM – A oposição errou ao não
conseguir apontar uma solução para a economia do país. Se é verdade que a
população de alguma forma se frustra com os rumos da economia brasileira e com
a presidente Dilma não ter conseguido cumprir, pelo menos no primeiro ano de
mandato, essas promessas, também é verdade que existe um estelionato eleitoral
do outro lado. Porque nós tivemos todo um discurso de austeridade fiscal feito
na campanha pela oposição e essa mesma oposição votou e apoiou a “pauta-bomba”
no Congresso Nacional. O estelionato existiu dos dois lados.
KA – Renato, qual seria o
efeito para o país de um impeachment da Dilma?
RM – O Brasil vive um
cenário de total desilusão. Essa crise de perspectiva que tem na sociedade
brasileira faz com que qualquer aventureiro possa surgir de um processo de
impeachment. O detalhe interessante é que, em pesquisas nossas, em pesquisas do
Ibope e do Datafolha, quando se pergunta qual é o motivo que as pessoas
favoráveis ao impeachment têm para defender o impeachment, as três primeiras
causas são econômicas. Ou é má administração ou é a atual situação da economia.
E são causas que não são previstas na Constituição brasileira. Ou seja, nós não
temos o instrumento do “recall” na Constituição brasileira de que, se eu não
gosto do presidente, eu tiro. O impeachment só pode ser feito se existe, de
fato, uma denúncia comprovada de corrupção. E isso não é apontado pela opinião
pública brasileira como nenhuma das três principais causas que a levariam a
apoiar o impeachment.
KA – Você pode detalhar isso
em dados? Porque, pelo que você está dizendo aí, a Lava Jato associada ao PT, a
corrupção que houve na Petrobras, a corrupção passa a ser apontada como a razão
principal da crise econômica?
RM – Sem dúvida nenhuma. A
gente acabou de fazer um levantamento no Datapopular que mostrou que, para 67%
dos brasileiros, a corrupção é a principal motivadora da crise econômica que o
nosso país vive hoje. É como se ele dissesse que a gasolina aumentou por conta
da corrupção na Petrobras.
KA – Não foi o congelamento
do preço, que ficou represado um tempão e agora aumenta o preço do combustível.
RM – Não foi o congelamento
dos preços, nem o valor do dólar, nem o valor do petróleo na bolsa
internacional. Foi por conta da corrupção. E esse movimento vale para todos os
índices que aumentaram os preços. Então, por que a corrupção, de uma hora para
a outra, num ano não eleitoral, ganhou a proporção e o peso no debate para a
opinião pública brasileira? Por dois motivos. Em primeiro lugar, num cenário de
campanha eleitoral, quem faz a denúncia da corrupção é um político. É um
político falando mal do outro político. Como o brasileiro acha que 92% dos
políticos são ladrões, então, de fato, a crítica vinda de um ladrão para o
outro, na imagem da opinião pública brasileira, não tem muito efeito. Agora, o
principal motivo, é que a crise econômica apertou. E a corrupção passou a ser vista
como a de toda essa crise econômica. E é por isso que o brasileiro nunca esteve
tão intolerante em relação à corrupção.
KA – Se o governo melhorar
um pouco a economia, então, isso resolve um pouco a crise?
RM – Melhorar a economia
passa não apenas por melhorar os índices econômicos, por garantir a manutenção
do emprego, por conseguir segurar a inflação. Melhorar a economia também passa
por um exemplo que o governo tem que dar para a sociedade. É como se o cidadão
perguntasse: “Olha, eles estão falando para eu apertar o cinto, para eu pagar
essa conta que juraram que não ia ser minha, mas não estão fazendo a parte
deles?”. A outra questão é como que o governo sinaliza um combate efetivo à
corrupção. E isso não passa apenas por colocar bandido na cadeia. Esse discurso
de justiceiro, num primeiro momento, faz sentido, mas não resolve, na opinião
pública brasileira, o problema de fundo da corrupção. Eles querem o dinheiro de
volta. O dinheiro será aplicado em creches, o dinheiro será aplicado nas
escolas. Eles querem fazer o seu ajuste fiscal doméstico, mas entender que, por
exemplo, os prédios públicos tenham as luzes apagadas às oito horas da noite,
não fiquem com a luz acesa a noite inteira. Sem dar exemplo, é muito difícil
convencer a opinião pública a fazer a sua parte.
KA – Renato, a gente já fez
algumas entrevistas e, numa delas, você previu com antecedência que uma aliança
entre o Eduardo Campos e a Marina seria factível e que seria competitiva. E a
gente viu, durante a eleição de 2014, que esse movimento de fato aconteceu. Eu
me lembro que nós conversamos aqui no SBT, pouco antes do segundo turno da
eleição presidencial, quando o Aécio estava em segundo lugar. Você foi o único
analista que disse que o Aécio tinha chance de ir para o segundo turno, quando
muita gente achava que a Marina iria para o segundo turno. Então, eu queria
fazer uma pergunta bem fácil para você: quem vai ganhar a eleição de 2018?
RM – Olha, Kennedy, vamos
lá. A gente tem dois cenários aí. Num cenário puramente científico, em condições
normais de temperatura e pressão, hoje, o candidato mais competitivo seria o
ex-presidente Lula.
KA – Mesmo com essa rejeição
alta dele?
RM – Mesmo com essa rejeição
dele, que não é só dele. Se a gente for ver os números do Ibope, a rejeição dele
é alta, a do Aécio também, é alta a da Marina. É alta de todos os postulantes,
porque há rejeição, antes de tudo, à classe política. Agora, quando você
pergunta para qualquer brasileiro “Lembra a última vez em que a sua vida
melhorou? Quem era o presidente da República?”, a grande maioria dos
brasileiros lembra do ex-presidente Lula. Agora, isso em condição normal de
temperatura e pressão, não é o que eu acho que vá acontecer nas próximas
eleições presidenciais. O cenário de descontentamento com a classe política é
tão grande, a insatisfação popular é tão grande, que pode surgir um nome que
ainda não está posto nas candidaturas. Kennedy Alencar, por exemplo (risos).
KA – Renato Meirelles…
(risos).
RM – Quem sabe?
KA – Você vê o risco de um
“outsider”, um salvador da pátria?
RM – Eu vejo, sim, um risco
do “outsider”, mas não acredito que qualquer “outsider” seja necessariamente um
novo Collor ou um aventureiro. É possível que venha um “outsider” que tenha,
sim, muito a contribuir para que o Brasil consiga voltar a crescer, voltar a
oferecer igualdade de oportunidade a todos, que é a maior demanda da população.
KA – Você disse que o Lula é
muito forte, mas que talvez não aconteça de ele ser eleito em 2018 se ele for
mesmo candidato. Um nome do PSDB, seja o Aécio Neves, seja o Geraldo Alckmin?
Quais seriam as chances de um candidato tucano?
RM – Olha, isso depende
muito de quem vai orientar o PSDB nessa próxima fase. A gente vê que, hoje, o
principal analista político do PSDB é o ex-presidente Fernando Henrique. Nosso
telespectador vai lembrar, o ex-presidente Fernando Henrique foi o primeiro a
falar que o inimigo não era a Dilma, era o Lula. O ex-presidente Fernando
Henrique foi quem segurou essa ânsia pró-impeachment do PSDB e foi conversar
com o vice-presidente Michel Temer, falando que apoiaria um eventual mandato do
presidente Michel Temer. Se prevalecer uma orientação de tentar buscar o bom
senso, de tentar buscar uma união nacional, o PSDB pode, sim, oferecer alguma
candidatura a presidente da República com chances competitivas.
KA – E as chances da Marina
Silva e de um nome do PMDB?
RM – A Marina Silva é sempre
uma grande candidata. As pessoas podem falar que a Marina já perdeu a sua
segunda eleição. E o Lula perdeu três. Então, o mito da Marina ainda é muito
forte. Se a Marina, como fez o presidente Lula, aprender com os erros da
campanha que perdeu, sem dúvida nenhuma, ela é um fortíssimo “player” para as
próximas eleições presidenciais. O PMDB, depende de qual PMDB a gente está
falando, né? O PMDB é um enorme partido, mas que tem uma dificuldade efetiva de
conseguir se unir em torno de uma candidatura. Tem nomes fortíssimos. O
prefeito do Rio de Janeiro é um nome muito competitivo para o PMDB. O Eduardo
Paes vai vir de um pós-Olimpíadas. Agora, uma eventual candidatura dele à
Presidência da República depende muito do desempenho que ele vai ter ao tentar eleger
o seu sucessor na próxima eleição municipal.
KA – Quais serão os temas de
interesse do eleitor na próxima campanha?
RM – É impressionante como
talvez essa seja a eleição em que mais, efetivamente, se discuta a cidade. E a
cidade não é apenas a zeladoria da cidade, se ela está limpa, se a rua está
esburacada ou não está esburacada. Vai-se debater a convivência do cidadão com
outras partes da cidade. O direito de ir e vir, o trânsito, o meio ambiente. A
questão das ciclofaixas, que estão estourando em várias e várias cidades de
todo o Brasil, não só em São Paulo. Você tem movimentos de ciclofaixas em
praticamente todas as capitais. Vai-se discutir também muitas questões de foro
de minorias, de lutas que, até pouco tempo atrás, eram segmentadas e que começam
a ganhar uma proporção muito grande. O racismo vai ser pauta. Igualdade de
oportunidades vai ser pauta. O feminismo vai ser pauta. O direito à creche vai
ser pauta na eleição municipal.
KA – O Fernando Haddad tem
chance de se reeleger em São Paulo?
RM – Podem me chamar de
maluco, mas eu acho que tem. E acho que é um dos favoritos hoje na eleição
municipal. Eu vou explicar claramente o porquê. Porque começa a se constituir
um rol de candidatos tão diversificados em que, sim, o Fernando Haddad, com o discurso
pró-cidade, talvez consiga convencer parcela do eleitorado de que ele deva
continuar e ter um segundo mandato. Nós não podemos esquecer que, aqui na
cidade de São Paulo, ele comprou brigas que num primeiro momento muita gente
foi contra e depois se tornou a favor. Ele comprou a briga das faixas de
ônibus, que hoje a maior parte da população é favorável, das ciclofaixas, que a
maior parte da população é favorável, agora a dos 50 km/h na Marginal, que a
maior parte da população é favorável. Hoje, nós temos duas candidaturas com
chances reais de ir para o segundo turno. Uma do prefeito Fernando Haddad,
outra da ex-prefeita Marta Suplicy. Falta ver quem é que vai ocupar o campo do
PSDB.
KA – Numa palavra muito
rápida: a Lava Jato, qual é a importância dela para o Brasil?
RM – A Lava Jato é
fundamental para o Brasil. A Lava Jato é fundamental para não poder mais
existir a naturalização da corrupção que vem historicamente acontecendo no
nosso país. A Lava Jato é importante nem que seja para botar medo nas empresas
e nos políticos. A gente pode discutir se a forma de condução da Lava Jato foi
a forma que melhor respeitou os preceitos democráticos de ampla defesa, isso é
uma discussão. Mas é indiscutível o papel educativo que a Lava Jato tem para
deixar muito claro de que não existe meio ladrão. Ladrão é ladrão. E não dá
para a ladroagem conviver com a democracia.
KENNEDY ALENCAR - SÃO PAULO.
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