Os atentados de Paris e a
descoberta de um passaporte sírio perto do corpo de um suicida reviveram as
tensões dentro da União Europeia sobre a política de acolhimento de migrantes e
refugiados. Os partidários de uma linha dura consideram que temores estão mais
fundamentados do que nunca.
Contra eles, o presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, defendeu neste domingo a manutenção da
política europeia migratória, garantindo que "não há motivos para rever
todas as políticas em matéria de refugiados".
Atenas e Belgrado
confirmaram que o passaporte sírio encontrado perto de um terrorista nas
proximidades do Stade de France - mas que ainda não está claro se corresponde
de fato ao suicida - é de um migrante que chegou em 3 de outubro na ilha grega
de Leros, e que posteriormente transitou pela Sérvia.
"Todos os refugiados
não são terroristas do EI. Mas acreditar que não há nenhuma combatente entre os
refugiados é ingênuo", observou neste domingo na imprensa alemã Markus
Söder, do partido conservador católico bávaro CSU.
"Paris mudou tudo"
e "o tempo não é mais de uma migração descontrolada", insistiu o
líder, cujo partido critica há várias semanas a política de acolhida de
refugiados de sua aliada, a chanceler Angela Merkel.
Sem esperar tomar posse, o
futuro ministro polonês dos Assuntos Europeus, o conservador Konrad Szymanski,
anunciou no sábado que seu país, já hostil ao acolhimento de refugiados,
"não via a possibilidade política" de cumprir com os acordos de
realocação de imigrantes.
"Senhor
primeiro-ministro, peço que feche nossas fronteiras, agora!", declarou por
sua vez o populista holandês Geert
Wilders, cujo partido lidera as pesquisas em seu país.
O movimento islamofóbico
alemão Pegida considerou, por sua vez, que atentados na Alemanha serão
inevitáveis "caso o dilúvio de requerentes de asilo não seja parado".
'Ilusão de segurança'
Mais de 800.000 migrantes
chegaram à Europa por mar desde o início do ano, a maioria do Oriente Médio, e
a Alemanha espera receber quase um milhão de refugiados apenas este ano.
O ministro alemão do
Interior, Thomas de Maizière, advertiu contra qualquer "link
precipitado" entre os ataques terroristas de Paris e a crise migratória na
Europa.
"Aqueles que realizaram
os ataques são exatamente aqueles de quem os refugiados estão fugindo, e não o
contrário", assegurou Juncker, antes da cúpula do G20 em Antalya (sul da
Turquia).
"Quem é responsável por
estes ataques em Paris não pode ser colocado em pé de igualdade com os
verdadeiros refugiados que procuram asilo", disse, considerando que os
europeus não devem ceder às reações "básicas".
Uma fonte próxima a Juncker
indicou que suas observações não significavam que não há uma margem de manobra
para avaliar, ainda que parcialmente, a política atual.
Para o ministro das Relações
Exteriores holandês, Bert Koenders, "fechar as fronteiras é criar a ilusão
de que estamos seguros, é um conto de fadas que não ajuda ninguém".
"Não sejemos ingênuos,
precisamos controlar os migrantes para saber com quem estamos lidando, mas
devemos ter muito cuidado ao ligar as causas e efeitos", ressaltou.
"Eu entendo esse medo,
e sei que não podemos excluir completamente" a presença de jihadistas
entre os migrantes, disse Koenders. Na Croácia, o principal país de trânsito de
migrantes nos Balcãs, o primeiro-ministro Zoran Milanovic também declarou que
"o fechamento (das fronteiras) e o arame farpado não impedirão tais
tragédias".
"Eu não posso vincular
a crise dos migrantes aos ataques de Paris", ressaltou. Na França, o
ex-presidente Nicolas Sarkozy, líder da oposição conservadora, instou a União
Europeia a adotar uma "nova política migratória", sublinhando que
"não há nenhuma ligação, naturalmente", com os ataques.
Da AFP.
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