Acuado por parte do funcionalismo público em greve, o
governo desencadeou uma operação para esvaziar o movimento, que na última
quarta-feira (08/08) se espalhou por vários Estados, expôs um ministro do
núcleo próximo da presidente Dilma Rousseff a vaias e levou o conflito para as
portas do Palácio do Planalto.
Após um dia de manifestações pelo País, o governo sinalizou
que vai atender a pelo menos parte das reivindicações. A ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o governo ainda está finalizando as
contas para ver que tipo de reajuste será possível apresentar aos servidores
que estão em operação-padrão ou de braços cruzados.
“Preferimos uma análise mais detida para apresentar uma
proposta responsável aos servidores”, declarou a ministra, depois de repetir o
discurso do governo sobre as dificuldades em consequência da crise econômica
internacional. “Iniciamos o ano com uma perspectiva melhor do que ocorreria com
a economia. Em maio, junho, o que se viu foi um cenário nublado, muito difícil,
que fez com que o governo tivesse de refazer suas contas.”
Segundo Miriam, “a posição do
governo é de absoluta atenção”
em relação aos serviços afetados pelas greves. “Precisamos garantir que os
serviços sejam prestados, para que não haja paralisia nas instituições, como
nos portos, para evitar qualquer comprometimento na prestação dos serviços.”
Um dos interlocutores mais próximos de Dilma, o ministro
Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) foi recebido com vaias e teve o discurso
interrompido várias vezes ao abrir a Conferência Nacional de Emprego e Trabalho
Decente, em Brasília.
“Este é um governo que tem responsabilidade, que o tempo
todo dialogou e em nenhum momento foi dito que não haveria proposta para os
trabalhadores. O que não faremos são atos de demagogia, que podem pôr em risco
a economia do País”, discursou Carvalho, sob vaias de servidores. “Lamento
profundamente e espero que as centrais sindicais, com quem dialogamos e com
quem temos uma relação tensa, mas cordata, chame a atenção desse setor que se
nega ao diálogo.”
O ministro foi recebido aos gritos de “pelego” e “traidor”
por parte do público, que também entoou em coro: “A greve continua, Dilma, a
culpa é sua.” Em outro evento - o anúncio do Plano Nacional de Gestão de Riscos
e Resposta a Desastres Naturais -, servidores exibiram faixas com os dizeres:
“Dilma, me chama de Copa do Mundo e investe em mim” e “Será possível um ‘Brasil
sem Miséria’ sem serviços públicos de qualidade”?
Segundo a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público
Federal, que representa 80% do funcionalismo, cerca de 350 mil servidores de 26
categorias aderiram à greve. Policiais federais que hoje completam três dias de
paralisação organizaram protestos em rodovias e operações-padrão em aeroportos.
Uma carreata em Brasília travou a Esplanada dos Ministérios ontem à tarde e
teve apoio até de policiais do Distrito Federal.
Com a pressão, as categorias foram recebidas pelo ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo secretário de Relações do Trabalho do
Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, em reuniões separadas, para tentar
acalmar os ânimos. Ainda assim, Brasília terá mais protestos. Hoje, uma marcha pela
manhã deve interditar de novo a Esplanada. Na semana que vem, está previsto um
acampamento em frente ao Congresso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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