Os países em desenvolvimento
podem acabar desperdiçando seus "booms" demográficos se não
melhorarem a educação e os direitos básicos das meninas, advertiu nesta
quinta-feira o Fundo de População da ONU (UNFPA) em seu relatório anual.
As meninas são menos
propensas a completar a escola e mais a ser submetidas a casamentos de
conveniência, trabalho infantil, mutilação genital e outras práticas que
impedem que desenvolvam todo o seu potencial, afirma o relatório apresentado em
Londres.
Por sua vez, se as meninas
forem apoiadas antes de chegar à adolescência, os países em desenvolvimento
podem colher os frutos econômicos de tais medidas, afirmou o UNFPA (em suas
siglas em inglês).
Mais da metade das 65
milhões de meninas de 10 anos que existem no mundo vivem nos 48 países com
maior desigualdade entre sexos, a maioria na África e no Oriente Médio.
"Em algumas partes do
mundo, uma menina de 10 anos, no limiar da adolescência, tem diante de si
possibilidades ilimitadas e começa a tomar decisões que influenciarão em sua
educação e, mais tarde, em seu trabalho e sua vida", disse Babatunde
Osotimehin, subsecretário-geral da ONU.
"Mas em outras partes
do mundo", acrescentou, "os horizontes de uma menina de 10 anos são
limitados. Quando alcança a puberdade, uma combinação de seus familiares, das
figuras da comunidade, das normas sociais e culturais, das instituições e de
leis discriminatórias bloqueiam seu caminho".
"Onde terminará,
dependerá do apoio que receber e do poder de moldar seu próprio futuro".
Se as meninas cursassem o
ensino médio na mesma proporção que os meninos, os países em desenvolvimento -
onde vivem 90% das meninas de 10 anos - receberiam 21 bilhões de dólares anuais
adicionais, estimam os autores do relatório.
Para alcançar isso, as
famílias poderiam ser recompensadas para que suas filhas frequentassem a
escola, melhorar as dependências educacionais, os uniformes, fornecer
bicicletas para comparecerem às aulas e reduzir as tarefas domésticas, o que
daria mais tempo para elas fazerem os deveres de casa.
"Para as meninas de 10
anos, o que está em jogo é triplicar suas receitas ao longo de sua vida. Para
as sociedades às quais estas meninas pertencem, está em jogo a redução da
pobreza", afirma o documento.
Muitas meninas não seguem
com sua educação depois de se casar, e a UNFPA convoca a impor uma idade mínima
de 18 anos para o casamento, estimando que 47.700 meninas se casam diariamente
antes desta idade.
Colocar o foco no bem-estar
mental e físico das meninas também beneficiaria a sociedade, sugere o
documento.
"É mais provável que
uma adolescente morra de Aids que de qualquer outra coisa", afirma a
UNFPA. "Em vários países africanos subsaarianos, as meninas desta faixa
etária têm cinco vezes mais chances de se infectar que os meninos",
adverte.
O estudo convoca os governos
a oferecer educação sexual nas escolas quando os alunos alcançam a puberdade e
proibir a mutilação genital.
Também convocaram a
erradicar a violência contra as adolescentes: a cada 10 minutos morre no mundo
uma jovem como resultado de algum tipo de violência, segundo dados da UNFPA.
AFP.
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