O
que é a operação
A Operação Lava Jato é a
maior investigação sobre corrupção conduzida até hoje no Brasil. Ela começou
investigando uma rede de doleiros que atuavam em vários Estados e descobriu a
existência de um vasto esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos
de vários partidos e as maiores empreiteiras do país.
Os procuradores que conduzem
as investigações no Paraná:
Athayde Ribeiro Costa,
Roberson Pozzobon, Januário Paludo, Carlos Fernando Lima, Deltan Dallagnol,
Paulo Roberto Galvão de Carvalho, Orlando Martello Jr., Diogo Castor de Mattos,
Antonio Carlos Welter).
Os números:
21 procuradores da República
na condução das investigações;
150 inquéritos,
aproximadamente, foram abertos pela Polícia Federal;
39 ações penais na Justiça
Federal do Paraná;
5 ações civis para devolução
de recursos desviados;
494 pessoas e empresas sob
investigação;
57 políticos sob
investigação no STF e no STJ;
156 réus na Justiça Federal
do Paraná;
119 prisões em caráter
preventivo ou temporário desde o início da operação;
29 ainda estão na cadeia.
Como
funcionava o esquema
1 - PROPINAS
Segundo o Ministério Público
Federal, diretores e funcionários da Petrobras cobravam propina de empreiteiras
e outros fornecedores para facilitar seus negócios com a estatal.
2 - CONTRATOS SUPERFATURADOS
Os contratos dessas empresas
com a Petrobras eram superfaturados para permitir o desvio de dinheiro dos
cofres da estatal para os beneficiários do esquema.
3 - OPERADORES
Parte do dinheiro recebido
pelos fornecedores da Petrobras foi desviada para lobistas, doleiros e outros
operadores encarregados de repassá-lo a políticos e funcionários públicos.
4 - PARTIDOS POLÍTICOS
Segundo o Ministério
Público, o esquema beneficiava os partidos políticos responsáveis pela
indicação dos diretores da Petrobras que colaboravam com o esquema na estatal.
Os
políticos
As investigações sobre os
políticos começaram em março, quando a Procuradoria-Geral da República
conseguiu autorização do STF (Supremo Tribunal Federal) e do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) para investigar 53 pessoas, incluindo deputados federais,
senadores e dois governadores, de seis partidos políticos. Todos negam
envolvimento com o esquema. A Procuradoria decidiu que não havia elementos para
abrir inquérito sobre a presidente Dilma Rousseff, embora um dos delatores
afirme que o esquema de corrupção ajudou a financiar sua campanha eleitoral em
2010.
Eduardo da Fonte - Deputado
federal PP/PE
Recebia pagamentos mensais
do esquema e articulou um pagamento de R$ 10 milhões ao PSDB para barrar uma
CPI sobre a Petrobras em 2010.
Fernando Bezerra de Souza
Coelho - Senador PSB/PE
Recebeu R$ 20 milhões do
esquema para a campanha de Eduardo Campos em 2010.
Humberto Costa - Senador PT/PE
Recebeu R$ 1 milhão do
esquema para sua campanha ao Senado em 2010.
Pedro Corrêa – Ex-deputado
federal PP/PE
O ex-deputado condenado no
mensalão recebia pagamentos mensais do esquema e era um dos líderes que
decidiam como distribuir o dinheiro do PP. Recebeu R$ 5.3 milhões na campanha
de 2010.
Roberto Teixeira –
Ex-deputado federal PP/PE
Recebia pagamentos mensais
do esquema.
Os
doleiros
Apontado como um dos
principais operadores do esquema, o doleiro Alberto Youssef é um velho
conhecido das autoridades. Ele foi investigado e processado antes por seu
envolvimento com um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou bilhões de
dólares a partir de contas do antigo Banestado, no Paraná. O doleiro Carlos
Habib Chater, seu parceiro em Brasília, usava um posto de combustíveis como
fachada para seus negócios, e foi daí que surgiu o nome da Operação Lava Jato.
Alberto Youssef
Apontado como um dos
principais operadores do esquema de desvios na Petrobras.
Trabalhava para o PP.
Valores movimentados
ilegalmente - US$ 445 milhões.
Nelma Kodama
Parceira de Youssef, foi
denunciada à Justiça sob a acusação de movimentar US$ 5,3 milhões no mercado de
câmbio paralelo.
Valores movimentados
ilegalmente - US$ 5,3 milhões.
Habib Chater
Também agia em conjunto com
Youssef, é acusado de fazer remessas ilegais para o exterior.
Valores movimentados
ilegalmente – R$ 2,5 milhões.
Raul Srour
Ligado a Youssef, é acusado
de movimentar recursos ilegalmente no exterior
Valores movimentados
ilegalmente - R$ 3 milhões.
O
avanço das investigações
1 - Doleiros
As autoridades começaram a
investigar em 2009 uma rede de doleiros ligada a Alberto Youssef, que
movimentou bilhões de reais no Brasil e no exterior usando empresas de fachada,
contas em paraísos fiscais e contratos de importação fictícios.
2 - Petrobras
Youssef tinha negócios com
um ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, grandes empreiteiras e outros
fornecedores da estatal. Os dois foram presos em março de 2014, e a partir daí
os desvios em obras da Petrobras se tornaram o foco principal da investigação.
3 - Prisões e delações
Em agosto de 2014, após ser
preso pela segunda vez, Costa aceitou colaborar com as investigações em troca
de redução da pena. Afirmou que ele e outros diretores da Petrobras cobravam
propina e repassavam o dinheiro a políticos. Youssef também virou delator
semanas depois.
4 - Empreiteiras
As delações deram impulso às
investigações. Em novembro de 2014, a polícia prendeu executivos de nove
empreiteiras acusadas de participação no esquema. Em junho de 2015, a operação
chegou às duas maiores empreiteiras do país: Odebrecht e Andrade Gutierrez.
5 - Políticos
Em março de 2015, a operação
alcançou os políticos suspeitos de participar do esquema. A Procuradoria-Geral
da República iniciou investigações sobre 53 deles. Em agosto, foi preso o
ex-ministro do governo Lula José Dirceu, que recebeu pagamentos de empresas sob
investigação. Em dezembro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi
alvo de busca e apreensão da PF.
6 - Outros setores
Empreiteiros que decidiram
colaborar com as investigações sobre a corrupção na Petrobras apontaram desvios
semelhantes em obras de outros setores: elétrico, como a usina nuclear de Angra
3, Copa do Mundo —caso da reforma do estádio do Maracanã, pela Andrade
Gutierrez---, e de transportes, como a ferrovia Norte-Sul. Em julho de 2015, o
almirante da reserva Othon Luiz Pinheiro da Silva, que presidiu a
Eletronuclear, foi preso sob suspeita de corrupção.
As
diretorias da Petrobras
As investigações se
concentram sobre três diretorias da Petrobras e as pessoas que passaram a
controlar essas áreas após a chegada do PT ao poder, em 2003. Segundo Paulo
Roberto Costa e Alberto Youssef, cada diretor era responsável por recolher
propina das empresas com contratos na sua área e repassá-la ao partido que lhe
garantia o apoio político necessário para continuar no cargo. Cada área tinha
um operador para fazer a distribuição do dinheiro, segundo os delatores.
Paulo Roberto Costa - Diretoria
de Abastecimento
Responsabilidade -
Refinarias, petroquímica e distribuição no Brasil
Período - 2004-2012
Partido Político - PP e PMDB
Operador principal - Alberto
Youssef
Propina segundo Costa e
Youssef - 3%, dos quais 1% para o PP, Costa e Youssef, e 2% para o PT.
Renato Duque - Diretoria de
Engenharia e Serviços
Responsabilidade - Projetos
e execução de obras
Período - 2003-2012
Partido – PT.
Operador principal - João
Vaccari
Propina segundo Costa e
Youssef - 2% - sendo 1% para o PT e 1%
para Duque e Barusco.
Nestor Cerveró - Diretoria
Internacional
Responsabilidade -
Exploração de petróleo e refinarias no exterior
Período - 2003-2008
Partido - PMDB
Operador principal -
Fernando “Baiano” Soares
Propina segundo Costa e
Youssef - 1%.
Jorge Zelada - Diretoria -
Internacional
Responsabilidade -
Exploração de petróleo e refinarias no exterior
Período - 2008-2012
Partido - PMDB
Operador principal -
Fernando “Baiano” Soares
Propina segundo Costa e
Youssef - 1%.
Quanto
dinheiro foi desviado
Nos processos em andamento
na Justiça, o Ministério Público Federal estima que R$ 2,1 bilhões foram desviados
dos cofres da Petrobras, mas é possível que o valor do prejuízo seja muito
maior. No balanço de 2014, publicado com atraso em maio deste ano, a Petrobras
estimou em R$ 6,1 bilhões as perdas provocadas pela corrupção. Para fazer essa
estimativa, a estatal examinou todos os contratos com as empresas sob
investigação e aplicou sobre o seu valor o porcentual de 3% indicado por Paulo
Roberto Costa como a propina cobrada em sua área.
Quem
são os colaboradores
Previstos na legislação
brasileira, os acordos de delação premiada deram grande impulso às
investigações. Os delatores se comprometem a contar tudo o que sabem sobre os
crimes de que participaram e a fornecer provas, além de devolver recursos
obtidos ilegalmente. Em troca, recebem garantias de que suas penas serão
reduzidas ao final dos processos na Justiça. Alguns advogados acham que o juiz
Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato no Paraná, manteve suspeitos
presos por muito tempo sem justificativa razoável, para forçá-los a colaborar.
Mas vários delatores aceitaram cooperar quando estavam em liberdade. A tabela
mostra quem são os principais colaboradores da Operação Lava Jato.
Paulo Roberto Costa
Ex-diretor de Abastecimento
da Petrobras
Descreveu o funcionamento do
esquema de corrupção e citou políticos e empresários envolvidos com os desvios
Recursos devolvidos - US$ 26
milhões, imóveis e outros.
Condenações – 5.
Alberto Youssef
Doleiro
Descreveu o funcionamento do
esquema de corrupção e citou políticos e empresários envolvidos com os desvios.
Recursos devolvidos - Hotéis,
imóveis e automóveis.
Condenações – 6.
Julio Camargo
Executivo ligado à Toyo
Setal
Admitiu ter pago propina
para manter negócios com a Petrobras, indicando repasses para o PT e o PMDB.
Foi também o primeiro a acusar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
de receber US$ 5 milhões do esquema.
Recursos devolvidos - R$ 40
milhões
Condenações – 2.
Augusto Mendonça Neto
Executivo ligado à Toyo
Setal
Descreveu o funcionamento de
um cartel formado por grandes empreiteiras para fazer negócios com a Petrobras
e admitiu ter pago propina.
Recursos devolvidos - R$ 5
milhões
Condenações – 1.
Pedro Barusco
Ex-gerente da Petrobras
Admitiu ter recebido propina
de fornecedores da Petrobras e entregou planilhas com detalhes sobre o
pagamento de R$ 1,2 bilhão em suborno.
Recursos devolvidos - US$ 97
milhões
Condenações -1.
Shinko Nakandakari
Lobista
Disse ter feito pagamentos
ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque e Pedro Barusco para facilitar negócios
da Galvão Engenharia.
Recursos devolvidos - R$ 1
milhão
Não foi condenado.
Dalton Avancini
Presidente da construtora
Camargo Corrêa
Admitiu ter pago propina,
acusou outras empreiteiras de participar do cartel e apontou desvios em obras
do setor elétrico.
Recursos devolvidos - R$ 2,5
milhões
Condenações -1.
Eduardo Leite
Vice-presidente da
construtora Camargo Corrêa
Acusou outros gerentes da
Petrobras de participar do esquema e disse que a Camargo Corrêa pagou R$ 110
milhões em propina na Petrobras.
Recursos devolvidos - R$ 5
milhões.
Condenações – 1.
Ricardo Pessoa
Dono da UTC
Disse que fez contribuições
a políticos do PT e de outros sete partidos, incluindo dois ministros de Dilma.
Recursos devolvidos - R$ 50
milhões.
Não foi condenado.
Júlio Faerman
Lobista que atuou para a
holandesa SBM Offshore
Disse que doou US$ 300 mil à
campanha de Dilma em 2010, transferidos a uma conta na suíça do ex-gerente da
Petrobras Pedro Barusco, a pedido do ex-diretor Renato Duque. Admitiu
pagamentos de propina na estatal que remontam a 1997, na era FHC.
Recursos devolvidos - US$ 54
milhões.
Não foi condenada.
Milton Pascowitch
Lobista ligado à Engevix
Detalhou pagamentos de
propina para o PT e o ex-ministro petista José Dirceu.
Recursos devolvidos - R$ 40
milhões.
Não foi condenado.
Mario Goes
Lobista
Detalhou pagamentos de
propina associados a contratos de obras da Petrobras.
Recursos devolvidos - R$ 38
milhões.
Condenações -1.
Fernando Baiano
Lobista
Corroborou a acusação contra
Eduardo Cunha e apontou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como
beneficiário do esquema. Afirmou que a compra da refinaria de Pasadena (EUA)
teve propina de US$ 15 milhões.
Não teve recursos
devolvidos.
Condenações -1.
Nestor Cerveró
Ex-diretor da área
Internacional da Petrobras e da BR Distribuidora.
Disse que pagou US$ 6
milhões ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao senador Jader
Barbalho (PMDB-PA). Também acusou o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que
teria ficado com outros US$ 2 milhões, e o banqueiro André Esteves, dono do BTG.
Não teve recursos
devolvidos.
Condenações – 1.
Salim Schahin
Dono do Banco Schahin
Seu banco emprestou R$ 12
milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Os valores foram
repassados ao PT e o empréstimo nunca foi quitado. Em troca, o grupo Schahin
ficou com um contrato da Petrobras.
- Não teve recursos
devolvidos.
- Não foi condenado.
As
empreiteiras
As maiores empreiteiras do
país têm negócios com a Petrobras e se tornaram alvo das investigações. Vários
executivos, incluindo os controladores de algumas dessas empresas, foram presos
em novembro de 2014 e ficaram na cadeia até o final de abril, quando o Supremo
Tribunal Federal mandou soltá-los. Em 19 de junho deste ano, as prisões
atingiram a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Cinco empreiteiras são alvo de
ações civis na Justiça, em que o Ministério Público cobra R$ 4,5 bilhões em
indenizações. As empresas sob investigação estão impedidas de obter novos
contratos da Petrobras e várias enfrentam dificuldades financeiras porque
perderam acesso a crédito após a Operação Lava Jato.
Odebrecht
Faturamento em 2013 em
bilhões - 10,1.
Andrade Gutierrez
Faturamento em 2013 em
bilhões - 5,3.
OAS
Faturamento em 2013 em
bilhões - 5,1.
Camargo Corrêa
Faturamento em 2013 em
bilhões - 4,8.
Queiroz Galvão
Faturamento em 2013 em
bilhões - 4,7.
Galvão Engenharia
Faturamento em 2013 em
bilhões - 3,9.
Mendes Júnior
Faturamento em 2013 em
bilhões - 1,7.
Engevix
Faturamento em 2013 em
bilhões - 3,3.
UTC
Faturamento em 2013 em
bilhões - 3,2.
A propina
Como
parte de seu acordo de colaboração premiada, o ex-gerente da Petrobras Pedro
Barusco entregou ao Ministério Público Federal uma planilha em que registrou
detalhes sobre o pagamento de propina em 89 contratos da Petrobras. De acordo
com as anotações de Barusco, cerca de R$ 1,2 bilhão em propina foi repassado a
políticos e funcionários da Petrobras como ele, o equivalente a 1% do valor
total dos contratos.
Folha de São Paulo.
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