Enredada entre dois grandes pesos pesados do capitalismo
brasileiro, a presidenciável Marina Silva está permitindo, na prática, que a
marca que ela criou e empolgou a sua militância se vulgarize.
Não
se sabe, porém, até que ponto isso pode funcionar a favor dela – ou, ao
contrário, acarretar um desgaste para a sua imagem pessoal e, também, para o
partido que ela ainda quer criar.
Rede,
neste momento, além de ser o nome da organização embrionária, também virou
marca de cartão de crédito e de uma estratégia de vendas de cosméticos e
produtos de higiene pessoal.
O
Banco Itaú, do qual a amiga, apoiadora e financiadora de Marina, Neca Setúbal,
é uma das principais herdeiras, mudou uma bandeira histórica dos cartões de
crédito que administra para que passasse a ser, exatamente, tal qual a marca
criada em torno da presidenciável. Os marqueteiros do Itaú jogaram fora o
'Card' e adotaram apenas o 'Rede' para, doravante, venderem seus cartões a mais
e mais clientes.
A
novidade foi anunciada em publicidades de páginas inteiras nos jornais de papel
da mídia tradicional: Redecard agora é Rede.
E
não é só. O que poderia, com boa vontade, ser chamado de coincidência singular,
dobrou de tamanho.
Ex-candidato
a vice de Marina em 2010, quando dedicou de sua fortuna pessoal mais de R$ 3
milhões para a campanha da parceira política, o empresário Guilherme Leal
resolveu criar o Rede Natura. Trata-se de uma estratégia comercial para vender
os produtos de sua linha de produção por meio de vendedoras em todo o País, que
passam a estar conectadas por essa Rede de comunicação comercial.
É
bonito isso?
Pode
ser de acordo com o ponto de vista. Certamente os marqueteiros do Itaú não
desconsideraram o fato de que trocar a conhecida marca Redecard pela nova Rede
associaria o cartão de crédito da instituição à figura política que, dia sim,
dia sim, frequenta e estará presente nas páginas do noticiário político até,
pelos menos, as eleições de 2014.
O
bilionário Leal, igualmente, com certeza considerou vantajoso para seus
negócios ter um board de coordenação de vendedoras com a marca que todas, é
claro, sabem que têm tudo a ver, mercadologicamente falando, com a singela
Marina.
Mas
e para a presidenciável? Ter a marca de seu embrião de partido associada
diretamente a tantos interesses econômicos é mesmo positivo? Não desponta, de
imediato, um conflito entre seu projeto político e estratégias empresariais
que, sem qualquer sutileza, se aproveitam diretamente da nuvem de milhões de
pessoas que acreditam no discurso da própria Marina? Aquele discurso de um
mundo melhor, mais sustentável, mais humano? A construção do paraíso na terra
prometido por Marina passa, então, pelo uso de cartões de crédito Rede e
cosméticos Rede, é isso?
Se,
amanhã, alguma companhia quiser lançar uma cerveja PT, o Partido dos
Trabalhadores vai aceitar ver sua marca de 30 anos virar cevada e espuma?
Uma
alfaiataria Tucanos, por exemplo, remetendo diretamente as roupas bem cortadas
dos próceres do partido faria mais bem ou mal à vintenária marca do PSDB?
Pode
ser uma boa ideia para o deputado Paulinho da Força licenciar a marca
Solidariedade - do partido que ele acaba de criar - para um fabricante de
bonés e camisetas ao gosto de sindicalistas?
São
perguntas que se colocam a partir da associação entre o Rede, embrião de
partido político, e o Rede cartão de crédito e o Rede articulação de vendedoras
e simpatizantes da Natura.
Pode,
é claro, dar certo. Mas dar certo para quem mesmo?
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