Quinta-feira, 13
de dezembro de 2012, aniversário de cem anos de Luiz Gonzaga, em Exu, no
Sertão. Dominguinhos, o mais importante dos convidados à festa, não parecia
muito à vontade, quando se apresentou no palco Gonzagão, com a filha Liv
Moraes. Tocou sentado, e comentou que preferia se apresentar no Parque Aza
Branca, “lugar onde todo sanfoneiro gosta de tocar”. Foi o artista mais
aplaudido de uma noite que teve também Gilberto Gil, Joquinha Gonzaga e Daniel
Gonzaga. No dia em que viajou para o Exu, Dominguinhos submeteu-se a mais uma
sessão de quimioterapia para combater o câncer de pulmão contra o qual lutava
há seis anos (tinha problemas cardíacos e era diabético).
Estava bastante
debilitado para enfrentar os 600 quilômetros que separam a capital pernambucana
do Exu, mas queria estar presente de qualquer maneira às celebrações de 100
anos de Luiz Gonzaga, mestre e amigo de toda uma vida. Para estar lá enfrentou
mais uma vez a estrada de carro. Recusava peremptoriamente a viajar de avião.
Há anos não entrava em um avião. Foi uma cisma. De repente não quis mais voar.
Em dezembro de 2011, numa conversa descontraída na pousada onde se hospedou no
Exu acenava para uma possibilidade de encarar novamente um avião. Alegava que
se sentia debilitado, depois de enfrentar a estrada de São Paulo para a terra
natal de Luiz Gonzaga com paradas em Brasília, e Fortaleza.
O cantor e
compositor Maciel Melo hospedou-se na mesma casa em que Dominguinhos estava no
Exu (pertencente a Raimundo, um amigo comum). Ele conta que Dominguinhos
aparentava estar debilitado: “Mas não se queixava de nada. Fiz uma apresentação
com ele, em novembro, no Manhattan, em Boa Viagem. Ele não me pareceu muito
diferente. O que ele não gostou foi de não ter tocado no Parque Aza Branca”.
Maciel diz que se sentiu honrado em dividir o palco do Manhattan com
Dominguinhos, o maior nome do forró depois de Luiz Gonzaga. De ter admiradores,
como o bancário Paulo Wanderley, que chegou a comprar o carro anterior do
ídolo, e possui toda sua discografia.
No entanto,
Dominguinhos sempre se esquivou aos que o queriam herdeiro de Luiz Gonzaga.
Argumentava que alguém dono de uma obra tão colossal quanto Lua não poderia ter
herdeiros, nem sucessores. Dizia-se que, igual a tantos outros sanfoneiros, era
apenas mais um seguidor do Rei do Baião. Porém foi bem mais do que isto. O
próprio Luiz Gonzaga afirmava ser Dominguinhos o responsável pela urbanização
dos ritmos nordestinos: “Eu vim com a linguagem do sertão com uma mensagem
autêntica do nortista para a cidade. Dominguinhos veio com uma técnica muito
avançada, harmonias modernas, coisas que não amarram o público simples.
Dominguinhos
urbanizou o forró, levou-o a todas as classes, nos grandes centros urbanos, que
é onde ele se apresenta” (Luiz Gonzaga). Também foi Gonzaga quem, em 1956, num
arroubo de entusiasmo pelo talento do adolescente Neném (o apelido de
Dominguinhos em casa), anunciou, que o garoto seria seu herdeiro artístico. O
certo é que José Domingo de Moraes foi o sanfoneiro que melhor apreendeu a arte
de Gonzagão e a levou a frente. Ele criou seu estilo pessoal de forró, e o
refinou a partir de início dos anos 70, quando virou o mais solicitado
sanfoneiro do Rio. Tocando e compondo para estrelas da MPB como Gal Costa ou
Gilberto Gil.
Dominguinhos se
cansou de contar que estava com oito anos quando conheceu Luiz Gonzaga, em
Garanhuns (onde nasceu em 12 de fevereiro de 1941). Foi levado ao Hotel Tavares
Correia (ou a um restaurante), onde pediram que que os três Pinguins se
apresentassem para o Rei do Baião. Ganhou do cantor uma razoável quantia em
dinheiro, e o convite para visita-lo quando fosse no Rio. Em 1954, pegou um
pau-de-arara com o pai, seu Chicão, e o irmão Valdomiro, e foi para morar em
Nilópolis, na baixa fluminense, onde já viviam os irmãos Moraes. Depois de
fazer muito biscate, de servente de pedreiro, a entregador de uma lavanderia,
Criou coragem e foi à casa de Luiz Gonzaga, no Méier, Zona Norte carioca. Dele
ganhou uma sanfona de 80 baixos, e mais do que isso, uma amizade que duraria
até a morte de Gonzaga, em 1989.
Logo Dominguinhos
estaria morando no casarão do Rei do Baião, e tocando em seu grupo. Neste época
formou o Trio Nordestino com Zito Borborema e Miudinho, que se desfez sem
chegar a gravar. Um casamento precoce, aos 17 anos, mulher e filho para
sustentar, o levou a tocar na noite carioca. Foi um aprendizado que enriqueceu
sua música. Gafieiras, boates, churrascarias, dancings. Em cada um destes
locais a clientela queria ouvir um tipo de música: boleros, sambas, tangos,
mambos, jazz. Ele tocou de tudo, e tão bem que seria convidado para tocar no
lendário Regional de Canhoto, ao lado de feras como os violonistas Meira e Dino
7 Cordas, e o acordeonista Orlando Silveira, um dos mestres no seu aprendizado.
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