A preocupação com a
composição do próximo Congresso Nacional foi um dos principais elementos para
escolha dos novos ministros, segundo o cientista político Ricardo Ismael, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Apesar do PT e do
PMDB terem as maiores bancadas, também cresceram partidos como o PSD, de
Gilberto Kassab, escolhido para o Ministério das Cidades, e o PRB, de George
Hilton, contemplado com a pasta do Esporte.
De acordo com a análise de
Ismael, desde as primeiras nomeações, a presidente tem buscado dialogar com
vários setores da sociedade. Segundo ele, isso ficou claro com as indicações de
Joaquim Levy para a Fazenda, de Armando Monteiro para o Desenvolvimento,
Indústria e Comércio e de Nelson Barbosa para o Planejamento. "Foi uma
tentativa de atender o mercado financeiro, sinalizando mudanças na politica
econômica. Com os 13 ministros, a preocupação foi na mesma linha, contemplando
a base aliada, sobretudo o PMDB, que ficou com seis pastas”, analisou.
Para João Feres Júnior,
professor de pós-graduação do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp),
é natural que políticos sejam escolhidos para altos cargos no governo. Segundo
ele, esta é uma forma de tentar diálogo mais próximo com representantes eleitos
para o Congresso e garantir que as propostas do Planalto sejam aprovadas pelo
Legislativo.
“O presidente da República
tem uma autonomia limitada. Várias das politicas públicas do Executivo têm de
ser aprovadas na forma de lei. Para uma lei ser aprovada, precisa passar pelo
Parlamento. Então, a presidenta tem de ter aliados lá”, comentou João Feres.
Segundo o cientista político, a Presidência da República apresenta mais
projetos de lei que deputados e senadores, mas precisa tratar com eles.
“No sistema
presidencialista, o conteúdo do governo tem de ser negociado constantemente com
o Legislativo. A presidenta não escolhe notáveis em cada área e os coloca nos
ministérios. O gabinete ministerial reflete o acordo com a base parlamentar,
uma articulação com a maioria do Parlamento”, acrescentou. “Política é uma arte
complicada. É correr no fio da navalha”, ressaltou.
Embora muitos nomes não
agradem eleitores mais à esquerda do PT, Luciana Veiga, professora de Ciência
Política da Universidade Federal do Paraná, lembrou que Dilma venceu
representando uma coligação da qual ficaria dependente. “Não podemos pensar em
desvirtuamento do voto. Pressupõe-se que os eleitores sabiam que era uma
coligação sustentada pelos votos do Parlamento, que, na Câmara, ficaram
divididos entre PT e PMDB”, acentuou.
Luciana acredita que, com
cenário econômico mais apertado, sob influência das investigações da Operação
Lava Jato, o segundo mandato será de negociação constante entre as forças que
elegeram a presidente. “Há os eleitores de esquerda que, na reta final,
viabilizaram a eleição. Mas eles não são maioria entre os eleitores de Dilma.
Pensando fria e estrategicamente em termos eleitorais, são eles os últimos a
deixarem de votar no PT em uma eventual disputa contra o PSDB.”
A professora da UFPR
acrescentou que a escolha por políticos foi pensada para garantir a
governabilidade, diante das incertezas econômicas e do cenário político. “Vão
os anéis, mas ficam os dedos. Tem de negociar. Se ela fizer birra agora, cai na
armadilha de negociar votação por votação. Sabemos como isso fica caro”, disse,
referindo-se, por exemplo, ao trâmite tumultuado do decreto criando a Política
Nacional de Participação Social (PNPS).
A análise de João é
semelhante. Ele sugere que os setores descontentes com as indicações devem
cobrar a presidenta por terem sido decisivos na reta final da campanha. “Os
movimentos sociais têm de cobrar a dívida, enquanto o papel da presidente é
governar”, justificou.
JC Online.
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