Terminou o Carnaval deste
ano. Durante este período de festa que inclui arte, tradição, turismo e
descontração, ocorrem também muitos outros processos, todos muito profundos e
menos evidentes.
O Carnaval, a festa das
máscaras, das fantasias, revela muito sobre a nossa personalidade e os estados
emocionais aos quais estamos vinculados.
Personalidade é uma palavra
derivada da forma grega “persona”, denominação das máscaras utilizadas pelos
atores no teatro grego, que além de favorecerem o reconhecimento de uma
personagem, também facilitavam a projeção da voz nos grandes ambientes e ao ar
livre.
Se o Carnaval é a festa das
máscaras, é, por analogia, também a festa das personalidades...
Muitos acreditam que as
pessoas se revelam durante festividades como o Carnaval, mas frente às
diferentes “personas” disponíveis, como será que as pessoas se revelam?
Será que elas se revelam
como são? Como gostariam de ser? Ou como, de fato, jamais seriam?
Será que todas as pessoas
que “pulam” o Carnaval, estão de fato felizes? Ou estariam tentando extravasar
uma tristeza e um vazio enormes, disfarçado de alegria e descontração?
Os pássaros são felizes por
que cantam, não cantam porque estão felizes!
A felicidade só é possível
quando o ser realiza a sua essência. Será que as fantasias, espécies de
“segunda pele”, que nos “protegem”, revelam ou ocultam a nossa verdadeira
essência?
Qual seria a nossa
“persona”, a imagem que corresponde à nossa verdadeira face?
Não há dúvidas que
“máscaras” e “fantasias” auxiliam temporariamente às ilusões que aparentam
tornar a vida mais leve, mais fácil e mais alegre. Ninguém questiona que as
fantasias podem revelar fatores inconscientes e arquetípicos do universo demasiadamente
humano. Mas, afinal, quando nossa verdadeira pele e nossa verdadeira face
estarão de fato expostas, nus em sua pureza autêntica e essencial?
Por trás de “tanto riso e de
tanta alegria, mais de mil palhaços no salão, o arlequim (que no ano passado
havia sido pierrô) continua chorando pelo amor da colombina...”
Que amor é esse?
As “máscaras” e “fantasias”
tão essenciais para a ambiguidade entre drama e comédia da vida humana,
deveriam ser removidas no “camarim”, onde voltaríamos a ser nós mesmos, nus e
autênticos revestidos apenas de nossa essência e frente a frente com um espelho
que reflete a verdade da imagem mais íntima de nossas vidas...
Terminou o Carnaval deste
ano, mas as “máscaras e fantasias” continuam...
Você é feliz?
Finge ser feliz?
O mesmo tempo que desfaz
“máscaras e fantasias”, envelhece as possibilidades de vivermos nossa própria
essência e expor a nossa tão frágil epiderme ao contato direto com a vida.
Temos muito medo de nos machucar e por isso nos recobrimos de “máscaras e fantasias”
e, sem perceber, nos machucamos muito mais, porque as dores do mundo se sentem
do lado de dentro das “máscaras e fantasias”. Tanto a felicidade como a dor são
estados internos que a maquiagem externa disfarça, mas jamais elimina.
No Carnaval de nossas vidas,
em algum momento teremos que exercer o ato de coragem de rasgar a fantasia,
despindo as máscaras e “vestindo” a difícil tarefa de sermos autênticos.
Que assim como a ave
mitológica Fênix, você renasça das cinzas desta quarta feira pós-Carnaval e
possa viver sua essência na plenitude, porque SER é mais importante que
ESTAR...